O dia que precisei ser mais forte que a leucemia

selo materia mae amiga

 

Vanessa Zugno

Mãe do Flávio e da Livia

♥ “Meu mundo acabou, fiquei sem chão, não conseguia mais ver nada na minha frente, e neste momento eu chorei sem parar por uns 5 minutos”

 

20.10.2015 – Um dia descobri que precisava ser mais forte que a leucemia…

Lívia estava com 11 meses… Dia 31 de dezembro de 2014 viajamos para Fortaleza para passar o mês de janeiro de férias lá (a família do meu esposo é de la). A Livia já estava com diarreia desde o Natal, porém como estava nascendo um dente eu não me preocupei até dia 02 de janeiro, quando ela apresentou também febre, fomos ao único hospital que atendia particular, ou pelo nosso plano de saúde.

O dia que precisei ser mais forte que a leucemia

Lá, a médica plantonista requisitou um hemograma e então começava a saga do sofrimento: furaram 13 vezes pra conseguir a quantidade de sangue suficiente… Para minha surpresa a médica solicitou que aguardássemos lá no hospital mesmo por 2 horas até que o resultado do exame saísse, isso já eram 23h e a Lívia ardia em febre em meus braços, quando finalmente saiu o resultado veio a triste notícia: ela precisaria ficar internada, naquele hospital caótico, pois estava com diagnóstico de infecção intestinal. Assim ficamos lá até o dia 05 de janeiro sujeitos ao péssimo atendimento que nos ofereciam.

Foi então que neste dia a pediatra da Lívia, que cuidava dela desde que nasceu e que é muito experiente, veio e solicitou novo hemograma. No final do dia, quando passei o resultado ela já ficou bastante preocupada e disse que no dia seguinte ela iria novamente ao hospital com um hematologista e um bacteriologista pra analisarem melhor o caso. Foi uma noite daquelas, imaginem meu coração quão apertado ficou…

“Foi uma noite daquelas, imaginem meu coração quão apertado ficou”

Na manhã do dia 06 de fevereiro, logo cedo, chegou a pediatra antes dos demais médicos, e a primeira pergunta que fiz foi se ela faria novos exames, ela com um ar de preocupação me respondeu que falaria em particular comigo assim que adiantasse a burocracia. Foram 40 minutos, quase não consegui respirar neste tempo, meu coração estava disparado… E eu só acompanhando ao lado, ela chamar o anestesista, pedir pra preparar o centro cirúrgico e assinar papeis…

Quando finalmente ela veio conversar comigo em particular, antes que ela dissesse qualquer coisa eu à disse: “Doutora, o que quer que seja, ou que se suspeite eu preciso que a senhora seja clara, pois moramos em Campinas agora, e eu preciso tomar muitas decisões, se for preciso eu vou para qualquer lugar do mundo pra tratar minha filha, mas aqui neste hospital eu não vou permitir que iniciem nenhum tratamento.†Ela pediu que eu me acalmasse que precisava fazer um mielograma pra ter certeza, mas que ela tinha fortes indícios de que fosse leucemia… Meu mundo acabou, fiquei sem chão, não conseguia mais ver nada na minha frente, e neste momento eu chorei sem parar por uns 5 minutos… Leucemia? Quando lá de dentro veio uma força muito grande, eu respirei e disse “Doutora, vamos em frente, o que quer que seja vamos enfrentar.”

“Meu mundo acabou, fiquei sem chão, não conseguia mais ver nada na minha frente, e neste momento eu chorei sem parar por uns 5 minutos.”

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Ela me passou informações mais detalhadas e a Lívia foi para o centro cirúrgico pra fazer o exame às 11h da manhã, o resultado saiu as 15h, e por telefone ela me confirmou o diagnóstico. Ela instruiu que viéssemos embora naquele mesmo dia, com urgência pois o tipo de leucemia LMA 5, é fulminante e ela já estava com 33% das células comprometidas. Assim que terminei de falar com ela comecei a agilizar tudo, liguei pra minha secretaria, pra minha mãe, pra que ela viesse pra Campinas, pro plano de saúde e etc… Não me permiti parar para chorar, sabia que tinha que salvar a vida da minha filha e que precisava ser rápido.

“Não me permiti parar para chorar, sabia que tinha que salvar a vida da minha filha e que precisava ser rápido.”

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Saímos do hospital as 23h direto pro aeroporto e viemos de avião de carreira mesmo, pois a UTI no ar demoraria 48h e nós não podíamos esperar. Pousamos em Campinas às 5h da manhã e do aeroporto seguimos direto pro Boldrini, refizemos todos os exames pra checar o diagnóstico e infelizmente era aquilo mesmo: Leucemia Mielóide Aguda M5. Ela já ficou internada desde então, e, no dia 10/01, iniciou a quimioterapia, que com a graça de Deus, 2 dias depois já não tinha mais leucemia no sangue, e após 15 dias não tinha mais na medula. Ela reagiu muito bem a quimioterapia, teve todos os efeitos colaterais, mas enfrentou todos sempre com sorriso no rosto… Até o dia 23 de janeiro: ela entrou em estado de choque e eu a levei nos braços pra a UTI, deixei ela lá e esperei por 1 hora pra dar a notícia pra meu esposo, esperando ter uma informação mais precisa de como estava o estado dela, porém eu não aguentei mais segurar a barra sozinha lá no hospital, e então liguei pra meu esposo e minha mãe irem ficar comigo.

“Estava inconsolável. Até que a porta abriu, quando o enfermeiro me chamou meu coração quase parou, temendo pela notícia que ele poderia me dar”

Se passaram mais 2 horas, 3 no total, e neste momento eu chorei pela segunda vez, o desespero pela falta de informação tomou conta de mim… Estava inconsolável. Até que a porta abriu, quando o enfermeiro me chamou meu coração quase parou, temendo pela notícia que ele poderia me dar… Mas, mais uma vez, ela foi forte, mesmo tendo entrado na UTI em choque quando ela ia ser reanimada e entubada ela voltou… Os batimentos voltaram a subir, a pressão e também a temperatura… Ela voltou! Mas ainda permanecia em estado grave, e assim ficou por 9 dias, sem poder se alimentar nem tomar líquidos, foram os momentos mais difíceis que já vivi, não só pelo sofrimento da minha filha, mas por participar do sofrimento de todos os outros pacientes e famílias que estavam lá.

“Foram os momentos mais difíceis que já vivi, não só pelo sofrimento da minha filha, mas por participar do sofrimento de todos os outros pacientes e famílias que estavam lá.”

Passado o susto da UTI, o tratamento continuou, no primeiro bloco de quimio contando com a UTI foram 33 dias internada sem alta. Até que chegou a primeira tão esperada alta, e pudemos comemorar antecipadamente seu primeiro aniversário, em casa, sem convidados porque ela não podia ter contato com nenhuma pessoa de fora, mas isso não diminuiu nossa alegria em comemorar esse dia, e a vitória que foi vencida na UTI. Nos demais blocos (que foram 5), ela ficava em média 25 dias internada a cada mês, mas como ela tem uma força surreal, enfrentou todas as dificuldades, infecções, dores, remédios e privações, e tudo isso com um sorriso sempre no rosto, foi ela, os familiares, os amigos e também as Mães Amigas que nos deram forças através de boas energias, orações, ombro pra chorar e apoio, e NÓS VENCEMOS!

“Foi ela, os familiares, os amigos e também as Mães Amigas que nos deram forças através de boas energias, orações, ombro pra chorar e apoio, e NÓS VENCEMOS!”

No dia 31 de julho de 2015, nós tivemos a confirmação que nossa pequena guerreira estava CURADA! E que nós fomos mais fortes que a leucemia.

Meu primeiro filho tinha apenas 2 anos

Em meio a toda está luta com a Lívia, mais inseguro e temeroso que eu e o pai, tinha o Flavinho, nosso filho mais velho que quando descobrimos a doença ele estava com apenas 2 anos. No início do tratamento ele passou por uma fase muito difícil, pois ficou mais de uma semana sem ver a irmã, e começou a fazer perguntas do tipo: “Eu ainda tenho irmã? Imaginem o que passava pela cabecinha dele… Era de cortar o coração…

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Procuramos a ajuda psicológica que o Hospital Boldrini oferece, e isso fez toda a diferença ele mudou completamente, ficou mais maduro, mais confiante. Nós aprendemos que a verdade deve prevalecer, pois eles (filhos) percebem tudo o que acontece o tempo todo, eles sentem a energia, as preocupações, então não falar a verdade faz com que eles fantasiem e percam a confiança em nós.

Ele também estava em adaptação ao novo colégio, mais um fator crítico, porém toda a família colaborou para que não faltasse atenção pra ele, revezamos eu, meu esposo, minha mãe, minha tia, meu sogro e minha sogra. Enquanto eu, minha mãe e minha tia ficávamos no hospital, os demais davam mais atenção ao Flavinho, e nos finais de semana eu ficava um tempo reduzido com a Lívia pra poder dar mais atenção à ele.

No decorrer do tratamento ele pode participar mais, ia mais vezes ao hospital visitar a irmã, e estava mais seguro e confiante de que tudo aquilo estava próximo de acabar. Ele se tornou um rapazinho. E a cada alta dela, aqui em casa era uma festa só.

Em palavras fica difícil agradecer à todos os anjos que estiveram conosco nesta difícil batalha, mas cada um fez toda a diferença, tornou nossos dias menos difíceis, então de maneira simples quero dizer OBRIGADA, Família, Amigos, Médicos, Enfermeiros, Auxiliares, Voluntários e claro Mães Queridas Amigas, que sempre estiveram conosco nos acompanhando, rezando, torcendo e até chorando junto. Vocês fazem parte de nossa historia de vitória e sempre estarão em nossos corações

“Enquanto eu, minha mãe e minha tia ficávamos no hospital, os demais davam mais atenção ao Flavinho”

 

O dia que precisei ser mais forte que a leucemia

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