Mãe solteira, tive medo de ser rotulada!
15.05.2013 (Repostado em 21.08.2018) –
Kátia Oliveira, mãe da Maria Eduarda, de 10 anos
♥ “Minha amiga tomou o papel da minha mão e gritou: “ELA ESTÁ GRÁVIDA! QUE LINDAAAAAA!” Na mesma hora, me veio em pensamento: “CADÊ A BELEZA EM SER MÃE SOLTEIRA???”
Eu achava que jamais aconteceria comigo, afinal, essas “coisas” nunca acontecem com a gente. O fato é que eu namorei o pai da Duda durante 7 meses. Um namoro totalmente impróprio para se pensar em uma gravidez. Muitas brigas, discussões, desconfianças, ciúmes doentios e a certeza de que aquele amor era eterno.
Terminamos. Comecei a me sentir “a última Coca-Cola do deserto”: solteira, saindo com as amigas, faculdade… ai ai, como é doce o sabor da liberdade! A falta que aquele relacionamento sem pé e nem cabeça me fazia, porém, era maior que tudo isso! Um mês depois, já estava quase morrendo e resolvi “tentar” mais uma vez. Tivemos uma recaída, mas não chegamos a voltar a namorar.
Graças a Deus que eu tentei, porque foi nessa tentativa que a minha vida se transformou completamente! Comecei a trabalhar numa empresa aqui em Vinhedo (SP). O local tinha um refeitório cujo cheiro da batata frita era de arrepiarrr! O sono me consumia depois das 13h e, num belo dia, fui ao banheiro depois do almoço e me peguei cochilando (quase babando), sentada no vaso. Pensei que estava trabalhando muito ou dormindo muito tarde e achei que seria demitida quando saísse do banheiro, porque eu nem sabia quanto tempo tinha ficado ali!
No outro dia, passei muito mal de enjôo e pedi um ENO para a copeira. Ela me disse: “hummmm, isso tá com carinha de neném…” e eu respondi: “ah, tá bom! Nem namorado eu tenho!” (kkkkkk).
Cheguei na faculdade a noite e disse a uma amiga que tinha passado mal. “Passou mal? Na minha época isso tinha outro nome!”, ela disse. Eu pensei: “até parece que isso vai acontecer logo comigo! Impossível!”
“No dia seguinte, fiz um exame de farmácia.
Deu POSITIVO.
Eu pensei: “esses exames não devem ser tão precisos”.
Comprei outro.
POSITIVO”
Eu não queria admitir que existia essa possibilidade, mas os comentários me assustaram. No dia seguinte, fiz um exame de farmácia. Deu POSITIVO. Eu pensei: “esses exames não devem ser tão precisos”. Comprei outro. POSITIVO. Affffffffffff! Pensa no desespero da pessoa!!
No outro dia de manhã, pedi ao meu papai querido que me levasse ao laboratório para fazer exame admissional (desculpa, PAIIIII!), mas eu fui mesmo para fazer o exame de sangue, porque ainda restava em mim uma esperança de que os dois testes de farmácia estivessem errados.
Foi engraçado, porque eu cheguei como se fosse uma criminosa e SUSSURREI: “moça, bom dia! Eu gostaria de fazer aquele exame Beta HCG” e ela, com a maior delicadeza e profissionalismo, BERROU: “ahhhhhh tá, exame de gravidez, NÉ?” Poutzzzzzzzz!
Sem nem olhar para os lados, senti o meu corpo inteiro queimar de vergonha. A vontade de matar aquela moça também me passou pela cabeça. Eu nem respondi.
Eu queria buscar o resultado na hora do meu almoço, mas não ficaria pronto antes das 16h. Obviamente, eu mal consegui sobreviver naquele dia, tamanha era a minha ansiedade e a certeza que o resultado seria NEGATIVO!
Pedi a uma amiga que retirasse o exame e o levasse na faculdade. Chegando lá, ela me entregou o envelope e eu, que mais parecia uma vara verde, pedi para chamar meus amigos e amigas. Quando olhei em volta, tinham mais ou menos 20 pessoas! kkkkk. Mesmo assim me senti num buraco negro, pois, se desse POSITIVO, a única pessoa que eu queria presente não estaria ali. Quando abri, fiquei sem reação e é obvio que todos entenderam: GRÁVIDA!!
“Minha amiga tomou o papel da minha mão e gritou: ELA ESTÁ GRÁVIDA! QUE LINDAAAAAA! Na mesma hora, me veio em pensamento: CADÊ A BELEZA EM SER MÃE SOLTEIRA???”
Uns diziam parabéns, outro diziam que eu era burra de ter engravidado de um Zé Mané. Uma amiga disse que me daria um macacão jeans. Outra dizia que eu não deveria ter esse filho.
Pedi para chamarem um grande amigo meu, que estudava na mesma faculdade. Contei a novidade e ele disse que me ajudaria a “resolver” o caso. Me colocou no carro dele e me levou até uma farmácia. Quando estacionou, olhou para mim e eu, completamente desnorteada, perguntei porque estávamos ali.
Ele respondeu: “eu nem acredito que isso passou pela minha cabeça. Deixa pra lá! Você é muito idiota de ter engravidado desse cara, mas esse bebezinho não tem culpa de nada disso, então pode contar comigo para o que você precisar!”. Foi aí que minha ficha caiu: EU ESTAVA GRÁVIDA MESMO. E AGORA?
“A frase que ele (“pai” da Duda) disse
me perseguiu por muitos anos.
Demorei muito para perdoá-lo,
pois ele disse:
“deixa eu ver essa ZICA”!
Liguei para o “pai”. Disse que precisávamos conversar e que era sério. Ele disse que não queria, porque não queria voltar mesmo. Eu insisti. Ele veio de Campinas para Vinhedo e, quando chegou, eu disse que ele precisava ler o que estava escrito ali. A frase que ele disse me perseguiu por muitos anos, demorei muito para perdoá-lo, pois ele disse: “deixa eu ver essa ZICA!”
ZICA? ZICA?? Pensei que não era possível uma pessoa ser tão insensível assim. Mas o que mais me machucou mesmo foi ele ter perguntado se eu tinha certeza que era dele, pois nos vimos pela última vez no Carnaval (comecinho de fevereiro) e, naquela ocasião, já era 27 de abril! É o fim da picada, né?
Liguei para uma amiga minha que foi mãe aos 16 e, por isso, com certeza saberia me aconselhar. Ela disse que eu deveria contar o mais urgente possível aos meus pais. Eu estava me sentindo muito sozinha. Chorei a noite toda e fui trabalhar no dia seguinte. Consegui um encaixe com o ginecologista do posto do bairro e lá fui eu com o exame de gravidez.
O Dr. pergunta: “pois não, menina?”. Colocando o exame na frente dele, eu disse: “acho que estou grávida!” Ele me responde com uma baita caneta vermelha circulando a palavra POSITIVO: “você acha que está grávida? Pois eu tenho certeza!” Meu mundo caiu mais uma vez.
Ele começou a me pesar (57kg que nunca mais encontrei), medir e escrever num cartãozinho. Me entregou e, quando eu olhei, estava escrito “CARTÃO DA GESTANTE”. Afffffffff! Morri de novo!
Voltei para o trabalho pensando que jeito eu contaria isso aos meus pais. Liguei para a minha mãe e ela estava assistindo Sessão da Tarde. Comédia, eu acho, porque ela só dava risada. Eu pensava: “ai, meu Deus, quando ela souber dessa notícia não vai rir não…”
Pedi que ela não saísse antes que eu chegasse em casa, pois precisava conversar com ela. Fui embora muito apreensiva, treinando discursos e desculpas esfarrapadas. Cheguei em casa e chamei minha mãe no quarto. Não consegui falar, então entreguei a ela o cartão da gestante.
“Eu disse:
“ESTOU GRÁVIDA”.
Ouvi grilos eternos.
Parecia que aquele silêncio da minha mãe nunca acabaria”
Ela me olhou sem entender e perguntou o que era. Eu disse: “ESTOU GRÁVIDA”. Ouvi grilos eternos. Parecia que aquele silêncio da minha mãe nunca acabaria.
Ela fez a única coisa que eu não estava preparada para lidar naquele momento: CHOROU MUITO E EM SILÊNCIO. Isso acabou comigo, pois eu tinha certeza que iríamos brigar muito feio naquele dia.
Quando meu pai chegou do trabalho, me entregou um marcador do smilinguido onde estava escrito assim: “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará.” Eu pensei assim: TOMARA MESMO!
Ele mal entrou, minha mãe disse: “bem, a Kátia tem uma coisa para te contar”. E eu não vi nela nenhuma cumplicidade. Isso me machucou. Ela queria que eu mesma falasse para o meu pai.
Doeu demaisssssssssssssssss! Meu pai confiava em mim, nos meus planos e projetos malucos, sentia orgulho de ter uma filha na faculdade e eu acabaria com tudo aquilo naquele exato momento.
Ele disse: “o que você aprontou dessa vez, hein?” Eu disse: “estou grávida” e morri de novo ao ver a carinha de decepção dele. Não queiram saber o que foi isso para mim…
Ele me levava e buscava no trabalho, me levava e buscava na faculdade. Um mês inteiro sem olhar nos meus olhos, sem me falar nem bom dia. Essa é a pior lembrança que carregarei para a vida toda.
Mas, no outro dia, todo aquele choro silencioso da minha mãe se transformou na mais bela de todas recordações dessa época. Eu saí para trabalhar e imagino que ela me acompanhou em pensamento pois, quando abri a porta do escritório, o telefone tocou. Era ela, a minha mãe.
Ela disse: “filha, independente das circunstâncias, quero dizer que a mãe já te amava, agora te amo mais ainda. Não se preocupe, pois nunca vai faltar nada para esse serzinho que a VOVÓ já ama tanto. Independente do pai dela assumir ou não, saiba que a sua FAMÍLIA está com você”. Nossaaaaaaaaaaa! Pensa numa pessoa que desidratou de tanto chorar! Família é tudo mesmo.
Depois de ser ameaçado pelo meu primo (um irmão, na verdade), o pai da Duda veio morar comigo na casa dos meus pais, no dia 14/05/2002 (eu estava grávida de 3 meses).
Tive que trancar a faculdade. Fui mandada embora grávida e, durante a minha gravidez toda, fui sustentada pelo meu pai.
O pai da Duda não tinha nenhuma responsabilidade. Gastava desenfreadamente, não pensava em mim e muito menos no bebê.
Eu não tinha dinheiro para comprar roupas, passei a gravidez toda usando uma calça bailarina preta e um macacão preto, sem contar as roupas da minha mãe. Ele, enquanto isso, estava sempre impecável, de gel no cabelo, roupas de marca e tênis caro.
Ele estava desempregado quando foi chamado para fazer entrevista numa empresa, em Vinhedo, mas precisavam que ele ficasse um mês em treinamento na matriz, em Minas Gerais. A Duda nasceu no dia 18/11/2002, às 16h13, linda e rosada! Ele a viu no berçário e viajou.
Durante essa viagem, fiquei sozinha de novo. Algum tempo depois que ele voltou, descobri que ele tinha frequentado lugares impróprios (se é que vocês me entendem). Me traiu muito lá em Minas. Na empresa, ele tinha um cargo de chefia, mas foi demitido quando descobriram que ele literalmente passou o rodo na mulherada dessa empresa, o que estava afetando a produtividade da linha que ele era responsável.
Cansei dessa vida e, quando foi 14/05/2003 (pasmem, exatamente 1 ano depois!!), ele foi embora da casa dos meus pais. Voltou a morar com a mãe dele, em Campinas. Arrastei esse relacionamento até dezembro.
“Festejamos” a ceia de Natal na casa da mãe dele e, depois disso, ele queria que eu pegasse a Duda, que tinha 1 mês, para irmos a pé na casa de um amigo dele. Eu disse, obviamente, que não faria isso, porque era perigoso e estava frio. Ele disse que eu era “velha e chata” e bateu a porta. Desacreditei.
“Ali me decidi.
Peguei a Maria Eduarda, então com 1 mês,
a mala dela, a minha mochila e uma sacola de fraldas
e fui sozinha para o terminal central.
A pé.
Com tudo isso nos braços”
Ele voltou pra casa bêbado, às 6h da manhã. Fedia a whisky e cambaleava falando mole. Ali me decidi. ERA MANHÃ DE NATAL. Peguei a Maria Eduarda, então com 1 mês, a mala dela, a minha mochila e uma sacola com fraldas que eu tinha comprado. Fui sozinha para o terminal central, a pé e com tudo isso nos braços. Simplesmente não tinha ônibus. Eu não tinha celular nem dinheiro para comprar cartão telefônico. O telefone da casa da minha mãe cortado, ou seja, eu estava completamente SOZINHA.
Esperei o ônibus por 1 hora e meia. Peguei um que chegasse em Valinhos e de lá eu pegaria outro para Vinhedo. A linha que passava perto da minha casa foi desativada naquele dia. Peguei um ônibus que parava longe mesmo. Quando desci com toda aquela tralha e a minha filha nos braços, me senti a última das criaturas. Não tinha uma alma na rua que pudesse me emprestar um celular ou um cartão telefônico. Bati palmas em uma casa e pedi por favor para usar o telefone.
Consegui falar com o meu pai. Sentei na sarjeta enquanto o esperava. Nunca chorei tanto, mas prometi a mim mesma e a minha princesinha que nunca mais eu deixaria que isso acontecesse. Que seríamos uma dupla!
Foi muito difícil, tudo, sempre! Mas minha família foi fundamental. Quando ela fez 1 ano, eu comecei a fazer curso de Prótese Dentária, porque queria trabalhar perto da minha pequena. Montei um laboratório com muito suor e sacrifício, mas a realidade era triste demais: eu trabalhava em casa, mas mais de 20 horas por dia! Nem via minha filha indo dormir!
Depois de um tempo, conheci uma pessoa que mudaria tudo em minha vida: Ivan, meu namorado e futuro marido, que me aceitou com brinde e tudo e o mais importante: seria o papai que a Duda nunca teve.
Com muito trabalho e amor à minha filha,
consegui dar a volta por cima –
e o melhor: conquistei tudo sozinha.
Em 2010, vim morar sozinha com ela em Valinhos. Uma nova fase. Não tinha dinheiro nem para ir ao mercado, mas com muito trabalho e amor à minha filha, consegui dar a volta por cima – e o melhor: conquistei tudo sozinha. Sempre com o apoio da minha família e do meu namorado, mas foi com o suor do meu rosto que eu consegui ser a mãe e o pai que a Duda precisou.
Não é fácil fazer tudo sozinha, mas no meu caso achei melhor. O caráter de uma criança é moldado diante da realidade que ela vive em casa. E melhor realidade que a casa do meus pais não existe. Muito barulho, televisão alta e gente falando durante a novela… Mas tanto amor, tanto amor, tanto amor que, com certeza, foi o suficiente para a Duda ser essa criança feliz, emocionalmente resolvida, inteligente e temente a Deus.
“É preciso amar as pessoas como se houvesse amanhã…”
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