Meu sonho era amamentar
Pela mãe amiga: PatrÃcia Almeida
Filho:Â Guilherme –Â 1 ano e 9 meses
Sempre tive o sonho de ser mãe… Meu marido compartilhava do desejo e, quando nos casamos, decidimos tentar e, logo na lua de mel, fiquei grávida! Foi uma felicidade muito grande para todos, meu filho foi muito planejado e esperado!
Eu morava em Itu-SP, longe da famÃlia e, durante toda a gravidez tirei muitas dúvidas com meu ginecologista (GO), mas nunca questionei sobre amamentação, talvez achasse que seria fácil e natural, pois quando vemos uma mãe amamentando, não imaginamos como fisicamente e espiritualmente deva estar preparada. Como meu GO nunca comentou nada e nem examinou se eu teria condições de amamentar normalmente, simplesmente passou batido.
Quando o Guilherme nasceu, ele não veio logo pro meu colo, foi ser examinado, vestido e liberado primeiro antes de me conhecer… Senti aà a primeira dificuldade! Ele nasceu à noite, à s 21h33 e, nas primeiras horas em que ele deveria ter mamado, a famÃlia queria conhecê-lo, fiquei com vergonha e medo de amamentar na frente deles e, mais uma vez, isso foi adiado. Depois disso, ele dormiu e eu, muito leiga no assunto, esperei que ele acordasse para tentar dar de mamar. Muito cansaço, pouca orientação, perguntei à s enfermeiras quando ele iria mamar, elas me questionaram porque ainda não tinha mamado, disse que não sabia nem por onde começar! Foi aà que tentaram começar a me ajudar… Descobrimos o primeiro e grande problema! Eu não tinha bico no seio, o chamado bico invertido ou plano, ele não conseguia pegar… Várias enfermeiras pegando e tentando encaixar a boquinha dele, e nada! Ele só chorava e ficava irritado! Questionaram se o médico havia acompanhado isso, eu disse que não, elas disseram que se não formasse bico, dificilmente ele mamaria. Pedi então ao meu marido que trouxesse uma concha de silicone para tentar formar um pouquinho de bico para estimulá-lo, meu marido veio de manhã trazer e, com a concha, a situação melhorou um pouco, mas ainda assim desconfiaram que o Gui não estava conseguindo fazer a “pega” correta, encaminharam ele para a pediatra avaliar. Ela o encaminhou à fonoaudióloga para fazer exercÃcios com a boquinha, e foi ela quem descobriu que ele colocava a lÃngua no caminho, por isso não conseguia mamar.
Todo esse esforço aconteceu no primeiro dia no hospital. Ele não mamou praticamente nada e eu ficando muito preocupada que teria que dar mamadeira para ele. Tentei de todas as formas, contei com a ajuda da equipe de amamentação do hospital, elas tentavam encaixar a boquinha dele, mas, mesmo assim, ele não conseguia.
Quando chegou à noite, ele começou a chorar como nunca, nada o satisfazia, não queria colo, estava inconsolável! Estava com fome, meu Deus! Meu coração estava partido em vê-lo assim… Pedi ajuda a uma enfermeira, que chamou a pediatra de plantão (já era noite) e resolveram fazer o exame de glicose no sangue nele, que estava com 47 mg/dl… estava com hipoglicemia! A enfermeira, totalmente sem coração, disse simplesmente que ele ficaria na UTI Neonatal, e que eu iria embora e ele não tinha condições de ter alta comigo. Desabei! Pedi pelo amor de Deus, disse pra ela dar outro tipo de leite pra ele, pois me culparia pelo resto da vida se acontecesse algo! A pediatra então receitou um copinho (50 ml) de fórmula, a enfermeira deu a ele no copinho mesmo, e ele tomou com tanto gosto que a fome dele devia ser enorme! Ele dormiu bastante e, na manhã seguinte, tentei novamente amamentá-lo, sem muito sucesso. Refizeram o teste e a glicose havia voltado ao normal. Graças a Deus fomos liberados para alta, os dois juntos!
Chegando em casa, o desafio era ainda maior. Foram alguns dias de tentativa, quando meu peito encheu de leite (depois de três dias do parto) tive que tirar com bombinha porque ele não sugava, o bico ficou super machucado, sangrando, mas mesmo assim eu tirava e dava leite pra ele no copinho e ele sempre com fome, chorando, não dormia e eu vendo meu filho sumir! Tive um anjo (enfermeira) que se chamava Maria, e ia todos os dias na minha casa me ajudar, mas mesmo assim foi muito difÃcil.
Assustada, levei ao pediatra com sete dias, porque até então ele havia feito apenas um coco (o primeiro, super escuro) e xixi ele não enchia uma fralda por dia! O pediatra fez a pesagem e se assustou com o resultado: ele nasceu com 3,670 kg, e estava com 3,050 kg em sete dias perdeu mais de 600 gramas, fora do padrão para RN… Olhando ele sem roupinhas, você via os ossinhos do peito aparecendo!
Imediatamente, o pediatra receitou leite de complemento para ele, lembro como se fosse hoje: 60 ml a cada 2 horas… Mas no copinho… Para não atrapalhar o peito, pois ainda tentaria dar o peito nos intervalos.
Tentei com o copinho por mais três dias, estava exausta, triste, ele mamava, mas não se satisfazia, porque era muito difÃcil. Com 10 dias voltamos ao pediatra. Ele pesava 2,820 kg, ou seja, 850 g a menos que no nascimento… Me senti a pior mãe do mundo, achava que não tinha a capacidade nem de alimentar meu próprio filho, já estava quase em depressão… Chegando em casa, eu decidi, por conta própria, dar uma bela mamadeira pra ele! Ele mamou como se fosse a única vez que mamava na vida! Me deu uma satisfação tão grande em vê-lo alimentado! Pela primeira vez satisfeito, ele até dormiu, não chorou mais!
Continuei tentando com o peito (eu tinha muito leite) e, depois da mamadeira, ele aprendeu a pegar o peito!!! Infelizmente, ficou com o peito como complemento, desde então, e mamou por três meses!
Quando eu ficar grávida novamente, terei que cuidar das mamas e prepará-las antes, para evitar possÃveis problemas, como os que eu passei com o Guilherme!
Fico muito feliz em dizer que, apesar de todas as dificuldades, realizei meu sonho de amamentar, mesmo que sendo só como complemento, e hoje ele é um bebê saudável e esperto!