UNIVERSO POLYANA: Por água abaixo!
Um minuto de silêncio para as minhas maquiagens que foram afogadas na privada. Surtando pela segunda vez na semana em 3…2…1!
– Miguel, venha aqui agora!
– Não mãe, deixa eu terminar isso aqui.
– AGORA MIGUEL!
Por água abaixo!
Miguel só tem 4 anos. Nunca me deu um pingo de trabalho. Meu amigo, meu companheiro, meu confidente. O melhor amigo do irmão, de quase 1 ano. Nunca demonstrou ciumes exagerado, salvo as eventuais manhas nas horas mais inesperadas. Essa semana foi punk, Murilo, o irmão, ficou 5 dias internado mais 7 em casa, devido uma bronquiolite. A balança da atenção pendeu para o lado do mais novo, mas não que eu tenha deixado de me desdobrar e dado o máximo de mim para atender também as necessidades do Miguel, mesmo estando esgotada mentalmente e fisicamente. Confesso que não sei se esse foi o motivo.
Peguei ele na escola e fomos para casa, rindo e brincando de achar os carros vermelhos. Chegamos com vontade de fazer coco. Ele foi para um banheiro e eu para o outro. Coisa rápida, vapt vupt rs. Avisei que tinha terminado e tentei abrir a porta do banheiro, que ele sempre gostou de deixar encostada. Mas ela estava travada. Miguel aprendeu recentemente que se ele abrir a gaveta do armário a porta trava, e com isso, ninguém entra. Mas nunca tive problema com isso. Em todas as vezes ele abriu e estava sempre tudo sob controle.
Desta vez ele enrolou mais para abrir, e pela fresta eu percebi que ele estava lendo um gibi, coisa que sempre faz quando está no banheiro (contamos histórias juntos). Aproveitei para rapidamente ligar a panela e cozinhar os legumes, que já estavam cortados. Dia de sopa!
– Miguel, já deu filho, abre essa porta.
– Mãe, só um minutinho!
– Filho, agora!
E ele abriu, lavou a mão e saiu. Ele já estava peladinho, antes de ir ao banheiro, pronto para terminar o coco e entrar no banho, como normalmente fazemos. Em casa ele me pergunta se pode ir ao banheiro, já vai tirando a roupa e diz que “vai aproveitar e tomar um banhinho depois”.
– Filho vem, banho! [eu estava no outro banheiro – um de frente para o outro. Meu apto tem 60m]
– Mãe vou pegar um brinquedo.
A pressão da panela tinha levantado e fui até a cozinha baixar o fogo. Na mesma hora, marido acabara de voltar da rua, do passeio do Bartho, nosso cachorro da raça York. Decidimos rapidamente que meu marido daria banho no Miguel enquanto eu terminava de me arrumar para o Happy Hour das Mães Amigas. Entrei no outro banheiro, abri o armário e não encontrei minha maletinha de maquiagem. Reparei que o chão estava riscado de vermelho. Levantei a tampa do vaso e surtei. Fiquei olhando minhas maquiagens no vaso. Fiquei pensando se eram minhas maquiagens novas. Olhei bem e visualizei meu corretivo. Sim, eram minhas maquiagens novas. Levantei a caixinha do tampax e encontrei minha base, novinha. Junto estavam meu rÃmel, um esmalte, um brilho labial e muitos tampax, todos desconetados.
É difÃcil manter a calma e decidir o que fazer nessa hora. O sangue esquenta e sobe um sentimento de fúria. Eu estava brava, muito brava. Jamais imaginei que meu filho tão bonzinho pudesse fazer algo como isso. Chamei o Miguel (como descrevi no primeiro parágrafo) e perguntei, muito brava, porque ele tinha feito aquilo.
– Olha aqui Miguel! Porque você fez isso? São as minhas coisas, a minha maquiagem! Com que direito você pega e simplesmente joga elas assim, no vaso, onde a gente faz xixi e coco??? Eu estou triste, muito triste mesmo. Você está de castigo! Vai ficar sem banho, sem janta, pensando no que você fez, aqui, na cama, sem descer e sem dar um pio.
Eu estava brava muito chateada. E eu também não sabia mais nada, o que era certo, o que era errado, como conduzir. Ele foi para o quarto chorando. Ele estava sentido. Começou a chamar o pai e eu disse que o pai não viria, pois as maquiagens eram minhas, e eu que iria resolver esse assunto com ele. Depois de alguns minutos ele me chamou. Eu sentei na cama e fiz o que sempre faço quando ele está chorando, tirando o fato que eu estava muito brava.
– Miguel senta! Agora pare de chorar. Eu retomara ao meu tom quase normal. Filho porque você fez isso?
– [chorando] Eu não queria mãe. Eu juro que nunca mais vou fazer isso. Desculpa mãe!
– Eu não entendo filho! Juro! Você é meu amigo, e essas coisas são minhas, eu ganhei de presente de aniversário e você estragou jogando elas na privada! Alguma vez você me viu pegando as suas coisas e jogando fora sem eu perguntar para você? Eu pego os seus carrinhos e jogo na privada?
– Desculpa mãe. Eu não queria fazer isso! Eu juro! Ele chorava sentido.
– É filho. Mas você fez. E eu estou triste. Muito triste! Eu te desculpo, mas você continua no seu quarto pensando no que você fez. Sem desenho, sem brincar. Você vai jantar, escovar o dente e cama! E amanhã vai limpar toda a sujeira que você fez.
Eu estava anestesiada. Eu me perguntava porque? O que isso significa? Ciumes? Atenção? Ele sentia minha falta? Mas quando? O que mudou? Ele é tão carinhoso, tão bonzinho, tão meu amigo …
Enquanto isso ele chorava no seu quarto.
Eu terminei de me arrumar, amamentei o Murilo e o pai o chamou para jantar. Ele tentou me gambelar. Parecia que nada tinha acontecido. E eu reforcei que era janta e cama! Eu queria sumir, essa era a verdade. Eu estava cansada, não dormia ha duas semanas, sem energia pra nada. Eu estava triste. E ao mesmo tempo eu estava feliz que era dia de Happy Hour. Eu poderia sair, respirar, relaxar e desabafar com minhas amigas. Eu precisava daquele tempo pra mim! Abri a porta e de longe ouvi os passos do Miguel se aproximarem.
– Mãe, onde você vai?
– Vou sair filho.
– Com quem?
– Com as minhas amigas.
– É o seu aniversário mãe?
– Não filho, vou apenas sair um pouco, rapidinho!
Eu fecho a porta. Em segundos ela abre, e já no elevador eu escuto.
– Tchau mãe, eu te amo!
E você, já passou por algo parecido? Me conforte! rs
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