UNIVERSO POLYANA: Amamentação de prematuro
31.07.2015 – Hoje eu vou contar algo que muitas mães me perguntam com frequência: Amamentação de prematuro. E também como foi o processo de alimentação do Murilo desde que ele nasceu, com apenas 31 semanas, afinal, de uma forma resumida, foram 20 dias na UTI, 7hs por dia na Maternidade de Campinas, 2 visitas ao Banco de Leite durante 20 dias, bomba extratora de leite como minha amiga inseparável, paciência e um desejo enorme de amamentar minha pequena muralha.
Amamentação de prematuro
Eu sou mãe de segunda viagem, então, na minha cabeça, algumas etapas eu já sabia como funcionaria: A descida do leite, a importância do colostro, o possÃvel ingurgitamento da mama, a probabilidade de novamente ter uma mastite, a forma de extrair e armazenar o leite, a importância do meu estado de espÃrito, etc. Dentro de mim existia uma vontade incrÃvel de poder amamentar o Murilo, da mesma forma que pude amamentar o Miguel durante 14 meses. Confesso que eu sempre tive saudades dessa fase, pois, na balança, o prazer de amamenta-lo foi muito maior do que as dificuldades que tive.
Porém tudo foi muito diferente do que eu já havia vivenciado.
Miguel nasceu de 40 semanas e nos primeiros minutos de vida já estava no meu peito. Tivemos nossa fase sofrida de adaptação a amamentação, eu tive uma bela de uma mastite, mas tudo caminhou bem após os primeiros 30 dias. Persistência e Paciência era o meu lema.
Já Murilo, nasceu de repente, sem ao menos eu imaginar que ele poderia estar a caminho. Após o parto ele foi encaminhado direto para a UTI com insuficiência respiratória. Não pude pega-lo, beija-lo e, muito menos, amamenta-lo.
Passado o baque veio a dúvida. Se amamentando o Miguel eu tive mastite, imagine como será a amamentação de prematuro, quando o meu leite descer, sem Murilo poder mamar?! Afinal ele pesava 1.950Kg, estava em uma incubadora e sem ordens médicas para introdução do leite.
Meu leite desceu no quarto dia como eu imaginava que seria. Igualzinho no Miguel! Mama completamente cheia, igual uma bola de basquete, por uma benção de Deus. Mas, desta vez, sem ninguém para mamar. Eu já havia agendado um horário no Banco de Leite para entender como seria minha rotina de “Mãe de UTI” junto a amamentação, uma vez que as enfermeiras possuÃam horários pre estabelecidos dentro da UTI para alimentar os mais de 40 bebês prematuros internados: 8 vezes ao dia de 3h em 3h (8h 11h 14h 17h 20h 23h 2h 5h). Dentro desses horários era permitida a visita dos pais das 7h à s 11h, das 14h à s 18h e das 20 à s 21h.
O benefÃcio de ter o Banco de Leite dentro da Maternidade de Campinas era que as mães de UTI poderiam fazer “Leite Fresco”. O que era isso? Nas mamadas das 8h, 11h, 14h e 17h, horário que o Banco de Leite estava aberto, podÃamos comparecer 30 minutos antes para extrair a quantidade de leite que nossos bebês tomariam, e as enfermeiras levariam o  mesmo para a UTI no horário da mamada.
Em casa, eu me organizava para extrair o leite a cada 4h/5h, inclusive nas madrugadas, uma vez que minhas mamas ficavam muito ingurgitadas e doÃam muito. Emprestei uma bomba de leite e extraia 100ml de cada mama. Eu armazenava-o nos potes de vidros recebidos no Banco de Leite, e quando os enchia, levava com a identificação do Murilo, para que pasteurizassem e para que meu pequeno se alimentasse do meu leite nos horários em que eu não estivesse presente. Era uma rotina cansativa, mas eu tinha clara convicção do quanto ela era importante, uma vez que eu queria amamentar meu pequeno.
Murilo ficou 7 dias na UTI, dentro de uma incubadora. Sua alimentação de leite foi iniciada no terceiro dia de vida, através de uma sonda, com apenas 3ml a cada mamada. Sim, 3ml! Durante dois dias ele se alimentou de leite doado. [pausa para chorar mais um pouco!].
Dentro da UTI existem muitos bebês debilitados (abaixo de 1,5Kg) e nem toda mãezinha consegue manter sua produção de leite por muito tempo. E eu entendo o motivo. A rotina é desgastante, estressante, triste e cansativa. Conheci mães que estavam na UTI há 40, 60 dias! E com isso, por falta de estÃmulo, estado emocional abalado ou qualquer outra razão, o organismo parava de produzir o leite. Seus bebês passavam então a receber a fórmula ou o leite doado por mães doadoras de leite. Como existe uma escassez muito grande de doação, os bebês que pesam abaixo de 1,5 Kg possuem preferência em receber esse leite doado. Na minha sala existiam dois bebês abaixo do peso, como Murilo mamava apenas 3ml por mamada e sobrava um pouco desse leite doado, as enfermeiras ofereciam o mesmo para ele, ao invés de dar a fórmula. [Um bebê na minha sala tinha intolerância a fórmula, ele mamava e minutos depois vomitava tudo. Por isso reforço a importância da doação de leite materno, se você tem, doe. De fato ele pode salvar vidas!]
No quinto dia eu já tinha entendido todo o processo, a rotina e me sentia mais confiante. Portanto, após ter minha aulinha no Banco de Leite, lá ia eu à s 11h, à s 14h e à s 17h fazer o leite fresco do Murilo, que começou a mamar com 3ml, depois com 5ml, depois com 8ml e por aà foi…..! Quando Murilo estabeleceu sua respiração, pode subir para a UCI, e no oitavo dia de vida dele pude, pela primeira vez, pegar meu filho no colo. [Desculpa gente, mas pausa para enxugar novas lágrimas].
Eu deixava o Miguel na escola perto das 9h, tomava um café, fazia uma oração mentalmente e voava para a Maternidade. Sempre procurei chegar bonita e feliz, por mais difÃcil que isso parecia ser. Eu acreditava que meu estado de espÃrito irradiaria para meu filho no momento que olhasse para ele. No décimo terceiro dia, após amarrar meus cabelos, lavar as mãos, esteriliza-la com álcool gel, colocar a roupa verde eu entrei na UCI para dar bom dia a minha pequena Muralha no meio de tantos fios, uma enfermeira se aproximou. O nome dela era Zaia. Toda bonita, sorridente e cheia de amor para dar ela me disse:
“Você gostaria de amamentar o Murilo hoje?”
Eu fiquei em choque! “O que? Hoje? Eu? Amamentar? Agora? Eu posso????”
“Sim você pode!”
Uma lágrima escorreu e eu nunca, jamais, ever, esquecerei desse momento da minha vida!
“Sim, eu quero claro! Estava ansiosa demais por esse momento. Mas como eu faço? Você me ajuda???”
E Zaia, toda gentil, me ajudou como se eu fosse mãe de primeira viagem a colocar aquele pequeno serzinho, de 1.800kg no meu peito. E o danadinho parecia ansioso por esse momento também. Abocanhou o meu peito e sugou lindamente, do jeito que eu recordava ser. E eu lembro dela dizer “Olhaaa, que bonitinho! Ele é um bebê de peito!” rs
Desse momento em diante eu nunca mais parei. Murilo teve uma pré alta (rs) no dia dos pais, em agosto de 2014, após 20 dias internado. A UTI estava muito, muito cheia e Murilo, com 1.850Kg, era o bebê mais próximo a receber alta. Fui para casa com a condição de retornar 2 dias depois para pesa-lo. A recomendação foi introduzir o leite artificial, mas eu tinha certeza que era capaz de amamenta-lo e que ele poderia ganhar peso apenas com meu leite. E então segui minha intuição de mãe, junto a minha experiência positiva de amamentação do Miguel, meu primeiro filho. Eu estava muito confiante e queria muito testar a amamentação exclusiva, em casa. Rigorosamente, amamentei o Murilo de 3h/3h, inclusive nas madrugadas, que eu colocava o despertador, durante 48h. Retornei ansiosa demais à Maternidade para pesar minha pequena muralha. Quando ele deitou na balança, havia ganho 100gr em 2 dias. Eu chorei! E finalmente tive alta definitiva. Até meu pequeno ganhar o peso ideal fiz um acompanhamento semanal na pediatra dele. Com 2,5Kg ele tomou a vacina BCG, que só é permitida a aplicação acima de 2Kg. E quando ele atingiu o peso ideal, continuei amamentando em livre demanda, sem dor, sem sofrimento e com muito orgulho de mim mesma, confesso.
Na minha cabeça, avaliando o meu histórico de mãe de primeira viagem, eu tinha plena convicção que conseguiria superar essa fase e que teria sucesso na amamentação do Murilo e em seu desenvolvimento. Foram 6 meses exclusivo no peito e Murilo ainda amamenta, com 1 ano. Ele entrou no berçário da Escola Brasinha com 7 meses completos. Durante dois meses eu ia até a escola, no meu horário de almoço, para amamenta-lo. Quando ele entrou no décimo mês substitui a mamada das 14h pelo leite artificial. Hoje Murilo mama ao acordar, no final do dia, antes de dormir e nas madrugadas. É cansativo, eu sei. Mas eu confesso que amo esse momento, principalmente por saber que ele será meu último filho.
Se você está passando por essa fase de UTI e deseja amamentar, em primeiro lugar é importante cuidar de você! Foco no pensamento positivo. Acredite que tudo dará certo! Aproveite para descansar, beba muita água, faça a extração do seu leite periodicamente, visite o Banco de Leite se necessário e tente deixar a tristeza e a preocupação para lá. Eu sei que é difÃcil, mas tente. A sua energia impactará na recuperação do seu bebê. Chegue feliz, transmita muito amor, vibre junto com ele…e quando ele estiver pronto para mamar será um momento mágico. Assim como foi para mim! Boa Sorte!
Murilo mamando, via instagram @maesamigas: clique aqui
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