Somos pais adotados e não pais adotivos…
Rúbia Padilha
Mãe do Brian
“Ele que nos permitiu fazer parte da vidinha dele. E que sortudos que somos!”
Somos pais adotados e não pais adotivos, o Brian nos escolheu!
25.05.17 – Não teve o primeiro choro. Nem a roupinha vermelha para sair do hospital. Nem teve um tanto de noites em claro e decisões como parto normal x cesárea, dar peito x dar complemento, largar o trabalho x deixar na creche.
Não teve também, a chance de construirmos junto um futuro desde o primeiro dia de vida. Ou a chance de guardar lembranças dos acontecimentos ao longo dos primeiros anos. Ficamos sem ter a chance de tomar certas decisões, de julgarmos certas possibilidades e que, sim, fazem falta, mas que também nos garantem que somos mais que isso: somos pais adotados.
Fomos, há pouco mais de 3 anos, adotados por um guri lindo, cativante, cheio de energia, cheio de personalidade. Que desde que chegou, aos quase 4 anos de idade, já nos mostrava que a vida era mais do que ter olhos, unhas, textura do cabelo parecidos. Que nos mostrou que não importava o que pensássemos sobre o assunto “maternidade”, não sabÃamos nada. Que nos deu a mão, desconfiado, logo no primeiro dia no abrigo, já querendo saber se podia confiar em nós, se estávamos, realmente, dispostos a encarar tudo, todos e mais um tanto de coisas, para sermos merecedores do amor gigante que ele carrega no peito.
Não teve também, o famoso “como vamos contar pra ele que ele é adotado?”. Nem nunca usamos a famosa frase “você nasceu do meu coração”. Não. O guri todo cheio de personalidade e super inteligente, já na nossa segunda visita ao abrigo, sabia que “aquele moço grande, que usa óculos, vai ser meu pai”, mesmo quando ainda trazÃamos diversas dúvidas sobre como, quando tudo aconteceria. Ele pegava meu óculos de sol, assim que chegávamos lá, e sem falar uma palavra, me mostrava que “ó, de agora pra frente, tudo que é teu, é meu”.
O que teve e tem, diariamente, é amor de sobra. Amor que vence barreiras criadas no coraçãozinho dele que não tivemos chance de proteger antes. Tem também, quase que diariamente, a tentativa de fazer o Brian, nosso filho, entender que “eu te amo, nós somos uma famÃlia e famÃlia nunca abandona” (Ohana!). Teve/tem uma luta diária contra preconceito dos que estão do lado de fora. Dos que nos julgam sem fazer questão de entender o que nos tornamos no momento em que olhamos aquele par de olhinhos cheios de vida e de vontade de viver. E que vontade de viver que tem o nosso guri!
Louco por correr, soltar pipa, jogar futebol, brincar de pega-pega, montar Lego. Ele raramente para de falar, de abraçar, de pedir carinho – um toque qualquer, quando assiste filme em cima do pai, ou deitado nas pernas na mãe. Quando ele diz eu te amo, ele diz de coração cheio. Quando ele tenta se colocar nas nossas vidas nos anos em que estivemos separados, tu sente que é porque ele realmente queria ter estado lá tanto quanto querÃamos que ele estivesse.
Somos 3 pessoas dentro dessa casa: Edberto, Rúbia e Brian. E nós nos tornamos uma famÃlia: pai, mãe e filho. Muitos acham que adotamos ele. Poucos entendem que, na verdade, ele que nos adotou. Ele que nos permitiu fazer parte da vidinha dele. E que sortudos que somos! Valeu todos os quase 4 anos de espera – praticamente o mesmo tempo em que ele esteve disponÃvel pra adoção. Nós não evitamos olhar pro passado antes de nos conhecermos, mas nós carregamos no peito a certeza de que tudo que nos tornamos depois que nos unimos, é muito melhor! Valeu cada segundo de espera. Temos todo o caminho pela frente. Abraçamos tudo que nos é dado com toda essa capacidade de amar a vida que o Brian nos ensinou a ter.
Esperamos pelo nosso filho por 4 anos e há 3 anos e 1 semana, virei mãe do Brian. Alguns falam que ele teve sorte – mas eu sei que a sortuda sou eu!
Somos pais adotados e não pais adotivos, o Brian nos escolheu!