Saúde Bucal na Amazônia
18.11.2013 – Vocês já pararam para pensar como é a saúde bucal na Amazônia? Nos anos de 1999 e 2000, quando estava no 3º e 4º ano da minha graduação, tive a oportunidade de participar do Projeto Napra. Fomos, durante o mês de julho, de ônibus, com um grupo composto por estudantes de Odontologia, Medicina, Farmácia, Biologia, Psicologia, Hotelaria e Administração, prestar atendimento voluntário à população ribeirinha da Amazônia.
O NAPRA – Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – é uma organização privada, sem fins lucrativos, que desenvolve projetos nas comunidades do Rio Madeira desde 1993, propondo ações integradas para as questões socioambientais da Amazônia brasileira, por meio da mobilização de profissionais, estudantes e ribeirinhos.
As cidades-alvo do Projeto Napra foram Calama e São Carlos do Jamari, distantes de Porto Velho (RO) cerca de 250km e 130 km, respectivamente, com acesso apenas fluvial. Esses povoados são constituídos por descendentes de seringueiros, garimpeiros e escravos (e não por índios, como inicialmente eu pensava, já que os índios foram praticamente extintos na época da exploração do látex e garimpo). Outra parte da população é originária dos estados vizinhos, que migram a procura de melhor qualidade de vida.
As pessoas conseguem sobreviver através de atividades como agricultura e pesca. Essas atividades de subsistência geram receita para a compra dos poucos produtos que eles não produzem.
Na Odontologia, em 1999, foram atendidos 519 pacientes, em 707 consultas. Dos pacientes atendidos, 95 eram crianças (19%).
Atividades do projeto
Para melhorar as condições de saúde bucal das crianças em fase escolar, o projeto apresentou 4 atividades:
– Palestra de Educação em Saúde Bucal
– Escovação supervisionada
– Aplicação tópica anual de flúor
– Fluoretação da água de escola pública
Sexualidade: Os jovens da região têm pouca ou nenhuma informação a respeito, o que causa o alto índice de meninas grávidas aos 12 ou 13 anos. Casando-se ou não muito cedo, muitas vezes essas meninas chegam a afirmar aos pais que estão “grávidas do boto” e o pai da criança nunca é conhecido.
A Família Ribeirinha da Amazônia
– Apesar de em muitas casas haver alto número de residentes, nem todos são filhos.
– As famílias ribeirinhas têm muitos filhos, com idades muito próximas.
– Há casos onde mora mais de uma família na mesma casa, porque os filhos mais velhos casam-se e continuam morando com os pais.
– As pessoas casam-se muito cedo, na maioria a esposa é muito nova e o marido nem tanto.
– Os chefes de família têm, em média, 40 a 50 anos, enquanto as esposas de 20 a 40 anos.
– Devido à moradia ser próxima aos rios, existe alto índice de malária.
– Devido ao convívio da população, quando se tem uma doença contagiosa, praticamente toda a vila fica doente, como foi o caso de conjuntivite, que se manifestou na maioria das crianças de São Carlos.
– Devido à grande quantidade de recursos naturais existentes na região, a população não necessita tanto de dinheiro.
– A maior fonte de emprego da população é o Funcionalismo Público.
– Apenas uma pequena parte da população tem renda acima de 1 salário mínimo.
“São moradores do Beiradão, que trabalham em Porto Velho, como auxiliar de enfermagem ou balconistas de farmácia que, com um bom conhecimento e vontade de ajudar a própria vila, acabam se tornando excelentes “médicos”, também em função da prática diária e o fato de a população depender tanto de sua ajuda, não tendo a quem recorrer. Assim, eles realizam partos, cura de queimaduras sérias e fazem os primeiros socorros, em casos de extrema urgência, para dar condições de levar o enfermo até Porto Velho, onde há hospitais com melhores recursos. Mesmo assim, o trajeto pode demorar mais de horas, caso haja um barco disponível para o transporte.”
No tempo em que participei do projeto, ajudei com orientação de higiene bucal e tratamentos odontológicos, mas, com certeza, eu ganhei muito mais, pois ganhei experiência de vida. Foi maravilhoso ter doado um pouco para uma região brasileira tão carente de atenção.
Veja este vídeo sobre o NAPRA
Clique aqui e veja o Relatório Geral dos Projetos desenvolvidos em 2011.