Papo de consultório…

Na sala de espera do cardiologista, ao meu lado uma outra paciente, também, a espera. Eis que incio um diálogo:

– Calor hoje, né?

– Nossa… muito.

– Vai passar com Dr. Augusto?

– Vou sim.

– Nossa… ele tá meio atrasado e eu preciso buscar minha filha na escola ainda.

– Ah, que bacana…quantos anos ela tem?

– Um bebe de 1 ano e 8 meses.

– Ownnn, que fofura. Eu ainda não tenho filhos.

– Filho é bom demais. Ainda mais quando se tem oportunidade de aproveitá-los. Eu, por exemplo, parei de trabalhar fora pra curtir ela um pouco.

– Ah, então voce não trabalha?

“Esta é a frase que toda mãe que não trabalha fora tem pavor de ouvir. Como se nossa rotina fosse flores… rsss”

– Fora não mais. Desde que Laurinha nasceu me dedico à maternidade em tempo integral.

– Ah… então é bem mais tranquilo pra vc.

Faço uma pausa e penso o que seria esse “mais tranquilo”!?

Volto com ela:

– Aí depende muito do ponto de vista… rsss. Antigamente, eu conseguia ter horário de almoço, por exemplo.

A moça ri e diz:

– Ah, mas trabalhar fora é muito dificil, aguentar desaforo de patrão, cobranças, stress, correria…

– Bom, nisso você tem razão. Mas a maternidade tambem lhe traz cobranças, correria e stress. A diferença é que você não aguenta isso tudo de um estranho mas, sim, de um serzinho pelo qual voce daria a vida tranquilamente.

– Se um dia eu tiver filhos, gostaria de fazer como você…parar um pouco de trabalhar. Ando muito cansada e ficar em casa, neste momento que vivo, seria muito bom. Ando muito estressada.

Bom… óbvio que não perdi a oportunidade de fazer meu discurso:

– É… mas minha rotina tambem não é tão fácil assim como parece. Veja você que eu acordo às 7h mesmo, na maioria das vezes tendo dormido pouco porque a Laura ainda acorda nas madrugadas. As 7h30 acordo minha filha, troco sua fralda, faço-lhe a mamadeira, brinco, troco o cocô matinal… isso qdo não faz um seguido do outro… volto a brincar, assisto 15 vezes o DVD do Patati Patata, dou o lanche da manhã, daí já está na hora da soneca, faço dormir (levo, ao menos, 30 minutos!), coloco no berço e corro pra preparar o almoço, arrumo a mochila, ajeito as coisas do banho, tomo uma ducha de 5 minutos e… Laura acorda. Dou banho, dou almoço, troco pra escola, escovo o dente, pingo soro no nariz porque, pra variar, está escorrendo. Enfim, boto no carro e levo pra escola. Ahh… note que ainda não mencionei que almocei. Por isso te disse que, antigamente, eu ainda tinha horário de almoço. Entrego na escola. Volto correndo, engulo alguma coisa e já penso no que vou fazer pro jantar e tiro a carne do congelador. Lavo a louça do dia anterior que, ainda está na pia, passo um pano no chão nos dias em que a faxineira não vem e coloco o jantar no fogo porque, quando a Laura chega, preciso dar atenção. Pronto… dá pra eu sentar no sofá por uns 30 minutos enquanto o jantar cozinha… rsss. Busco na escola e, quando chego em casa. preciso brincar já que volta no gás e querendo atenção da mamãe.

Nisso marido chega e quer atençao, né? Ah… esqueci de citar as minhas duas cachorrinhas que, também precisam de mim…. rss. Então, primeiro come a filha, depois o marido, depois as duas dogs e, por fim, eu janto… rsss. É isso! Eu, realmente, não trabalho fora, eu sou é escravizada dentro de casa… rsss… brincadeira. Na verdade, ser mãe é uma escolha de cada um e, no pacote, inclui tudo isso que falei. Portanto, quem não quer ter trabalho, que não tenha filhos, né?

Olho pro lado e a moça está de olhos esbugalhados prestando atenção em tudo que eu narrava e então eu pergunto:

– E você? Não me disse no que trabalha.

– Ah, nada de mais não… sou secretária em uma empresa.

Percebo que agora o trabalho dela já não é mais tão estressante assim… sinto vontade de rir… me seguro. Inevitável não pensar “toma! achou que minha vida era fácil??”… rsss. Perguntei-lhe:

– Mas o que lhe traz ao cardiologista?

– Na verdade, consulta de rotina e você?

– Ah… eu ando com umas palpitações estranhas… sei lá… talvez seja a correria do dia-a-dia.

– É… pode ser. Sua rotina é, realmente, agitada.

O Dr. a chama, ela entra e me diz um “até logo” apressadamente. Das duas uma: Ou assustei a moça ou ela se sentiu envergonhada de subestimar a rotina de uma mãe que “não trabalha”.

 

Placa-Patricia

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