“Minha filha teve AVC; só descobrimos depois”
Débora Silva
Mãe da Isabella, de 5 anos
♥ “Aprendi a enxergar e dar valor às coisas tão pequenas. Que passam tão desapercebido por outras pessoas.”
Minha filha teve AVC; só descobrimos depois
Sempre tive o sonho de ser mãe, até mesmo antes de casar. Mas aprendi que tudo acontece no tempo de Deus e não no tempo que nós queremos que aconteça. Depois de 1 ano quando resolvi “desencanar”, engravidei. Passei aquela noite chorando e agradecendo… parecia não acreditar no que estava acontecendo.
Estar grávida, sem dúvida, nenhuma é o período mais sublime de uma mulher, é muito amor, muita felicidade. Como é possível o instinto de mãe aflorar tão incrivelmente. Só Deus para conceder benção tão maravilhosa.
A gravidez da Isa não foi nada fácil. Passei muito nervoso no meu antigo trabalho. Quando completei 7 meses de gestação, sentia dores muito fortes embaixo da costela direita. Todos os exames, inclusive os ultrassons indicavam que estava tudo correndo bem. Mas essas dores me preocupavam muito.
Com 36 semanas de gestação tive perda de líquido e fui internada. As contrações foram controladas e a médica preferiu aguardar o máximo de tempo que fosse possível. Após 2 dias o líquido diminuiu ainda mais e meu exame de sangue começou a ter alteração. Foi necessária uma cesárea de emergência. Nossa Isabella veio ao mundo saudável e linda, pesando 3,215 kg.
Primeiro susto
Isabella nasceu ás 16h20 e ás 23h ela ainda não tinha subido para o quarto. Apesar de marinheiros de primeira viagem, ficamos inconformados com a situação. Cansados de perguntar o motivo de tanta demora, meu marido fez um verdadeiro “barraco” no andar que estávamos e só depois disso nossa Isa finalmente veio para o quarto.
Imaginávamos que estava tudo bem, até a chegada da hora do banho no quarto. Quando tirei a roupinha dela, a mãozinha direita estava super inchada e arroxeada, e haviam feridas feias no punho e no braço. Fiquei em pânico. Aí veio o segundo barraco, um verdadeiro entra e sai de enfermeiras e médicos. Fizeram radiografia, ultrassom e outros exames. Conclusão: Isa teve uma lesão leve do plexo braquial na hora do parto, e o motivo é um mistério até hoje.
Era hora de agir! Após a alta, corremos para vários ortopedistas. Graças a Deus a lesão foi leve. Para se ter uma ideia da importância do plexo braquial, em outras palavras, é o nervo que faz o transporte do estímulo que vem do cérebro. O rompimento total desse nervo, pode causar a paralisia definitiva do membro. Mas, com 10 sessões de fisioterapia neurológica domiciliar, nossa princesa estava ótima!!!
Isabella crescia e mamava muito bem, mamou até 2 anos e 1 mês. As feridas renderam 2 cicatrizes que ela tem até hoje. Contratei uma pessoa para cuidar dela na casa da minha mãe, para que eu pudesse trabalhar. Com a supervisão e ajuda da minha mãe, ficava muito mais tranquila.
Certo dia, minha mãe comentou comigo que a Isa parecia não mexer muito bem a mãozinha esquerda, mas o problema que ela teve foi no braço direito.
Segundo susto
Pouco antes da Isa completar 11 meses de vida, descobrimos através de uma tomografia que ela tinha sofrido uma lesão cerebral, mais conhecido como AVC.
Não se sabe em que momento isso aconteceu, se foi na gestação, durante ou depois do parto… Era tudo muito superficial… não sabíamos exatamente quais seriam as consequências, só sabíamos que a lesão tinha afetado toda a parte motora do seu lado esquerdo, ou seja, nossa Isa tinha Hemiparesia.
O neurologista não teve o menor jeito para nos informar sobre o ocorrido. Sei que nós pais temos que estar preparados para enfrentarmos situações difíceis com nossos filhos, mas esse profissional foi extremamente insensível. Olhando as imagens da tomografia ele dizia: “Imaginava que a lesão era grande, mas não tão grande! Ela nunca irá nem sentar”!
Meu marido não conseguiu expressar nenhum sentimento com aquele médico… ele não sabia se subia no pescoço dele ou se desabava no choro, porém, ficou inerte. Anestesiado. Não aguentei… desabei no choro. Saímos daquele consultório sem dizer se quer uma palavra para o outro. Ele me deixou no meu trabalho e disse que precisava ficar sozinho. Peguei meu carro e fui direto para a minha mãe ver minha Isa. Sentia doer o meu peito como se tivesse recebido uma apunhalada…chorava incessantemente com toda a minha alma e ao mesmo tempo que pedia desculpas à Deus por estar chorando, eu agradecia por não ter afetado a parte cognitiva, pois sabia que existiam casos muito mais graves, e isso confortava o meu coração.
Era hora de agir novamente…. Não tínhamos tempo a perder! Fomos em vários neurologistas e recebemos inúmeras opiniões diferentes. Optamos por iniciar o tratamento com uma médica que nos passou confiança e serenidade. Começava a luta!
Logo no mês seguinte, além das sessões de fisioterapia, fazíamos natação. Digo fazíamos, porque entrava com a Isa na piscina em todas as aulas. Consecutivamente, na nossa rotina, também existiam as sessões de fonoaudiologia, hippoterapia, terapia ocupacional, tudo isso com acompanhamento de pediatra, neuroftalmo, ortopedista, fisiatra, tratamento espiritual e muitos, muitos exames.
Com pouco mais de 2 anos de vida, o “inesperado” aconteceu, pois eu nunca perdi as esperanças. Nossa filha dava os primeiros passinhos sozinha! Com um misto de alegria e gratidão ajoelhei e agradeci à Deus pela benção recebida. Nossa Isa podia andar!
Aos 3 anos de idade, ela começou a frequentar a escola. Deus reservou uma escola infantil abençoada, com pessoas iluminadas que acolheram a Isa como sua própria filha. Eles me ajudam muito. Ver minha filha dançar no dia das mães foi inexplicável… eu só agradecia! Cada pequeno avanço era uma alegria para nós.
Há 5 anos, Deus me deu a mais linda missão da minha vida… A Isa veio para unir, ensinar, transformar em amor, tudo e todos à sua volta. No começo não foi fácil, mas como disse, não demorou muito para entender que Deus tem um propósito na vida de cada um de nós. Sem dúvida nenhuma, sou uma pessoa completamente diferente depois do nascimento da minha filha.
Aprendi a “enxergar” e dar valor às coisas tão pequenas, que as vezes passam tão desapercebido por outras pessoas.
E ela está aí! Linda, andando, correndo, interagindo, cheia de amigos, familiares e profissionais que a amam e que com certeza fazem toda diferença!
A terapia mais eficiente foi a “amoterapia”, sem ela nenhuma das outras teriam efeito. Isa contagia de amor as pessoas a sua volta! ❤Isa Amor❤
Agradeço à Deus por me fazer a mãe mais feliz desse mundo, e por me conceder esse amor incondicional sem limites.
Que venham ainda muitos e muitos anos de superação, aprendizado e amor!
Minha filha teve AVC; só descobrimos depois
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