Dois filhos, duas cesáreas completamente diferentes!

selo materia mae amiga
Carolina Simon

Mãe da Nina e Max
♥ “As histórias dos meus dois partos se fundiram e deram lugar a só uma memória maravilhosa de uma história de parto que eu escrevi”

 

Dois filhos, duas cesáreas completamente diferentes!

Eu sempre quis viver o parto normal. Por ser o “planejado” pela natureza e porque queria viver e sentir toda a emoção, dor e o que mais estivesse no pacote de parir. Também sempre tive em mente que se o parto normal não acontecesse. Pelo menos aguardaria meu corpo dizer que a hora tinha chegado. Respeitando o tempo dos meus futuros filhos. E pronto. Eu achava que com esses desejos estabelecidos eu já tinha tudo que precisava para que tudo acontecesse dentro do esperado. Ah! Eu também achava que o bebê nasce sabendo mamar mas isso é assunto pra outro texto! Engravidei da minha filha e segui com esse pensamento. Tive uma gravidez super tranquila. Trabalhei até uma segunda feira. E na terça feira quando me levantei de manhã pra ir fazer xixi, as 6:00, a bolsa rompeu. Fiquei super feliz imaginando meu parto normal acontecendo em breve. Avisei a família. Fomos pro hospital e fui atendida no pronto socorro.

A médica que me atendeu me explicou que com bolsa rota eu não poderia mais voltar pra casa. Teria que ficar internada pois é uma porta aberta para infecção. Me examinou e disse que não tinha sinais de dilatação. Então explicou que eu tinha duas opções: ir para a cesárea ou tentar induzir para que todo o processo do parto normal começasse. Explicou um pouco mais sobre a indução (com detalhes não muito atrativos) e disse como quem não quer nada que por garantia deixaria o pedido de cesárea pronto. Só caso precisássemos. Pediu monitoramento e alguns exames para depois conversarmos e decidirmos o que faríamos. Fomos pra uma sala e fiquei lá deitada monitorando os batimentos da minha filha. Quando eu, inocentemente, me senti na obrigação de confirmar para a família que a Nina nasceria naquele dia. Foi o suficiente pra todos pararem o que estavam fazendo e irem pro hospital. Lógico que com os melhores sentimentos, desejos e intenções que poderiam ter.

Às 11:20 a médica passou na sala e avisou que deixaria o centro obstétrico reservado pra meio dia. Só pra aproveitar a vaga. Só caso precisássemos! 11:40 ela volta pra ver os exames e diz: está tudo ótimo!!! Vamos tentar o parto normal? Eu olhei pro meu marido e disse: Putz já está todo mundo aí! E agora?? Melhor ela já nascer logo né! E segui pra cesárea! Fui para a sala de cirurgia. Me perguntaram se meu marido me acompanharia e eu disse que sim. Começou um turbilhão de sentimentos. Ansiedade. Felicidade. Angústia. Medo. Pavor. Minha filha vai nascer. Eu vou ser mãe! Será que vai dar tudo certo? Ela será perfeita? Com saúde? E a anestesia? Que medo. Vai doer? E se eu morrer?

E sentindo tudo isso, eu fui deitada em uma maca. Anestesiada. Jogada de um lado pro outro. Aberta. Eles conversavam! Riam! Eu não fazia parte daquele evento deles. E quando iam tirar a Nina. O Lucas entrou! Colocaram ela do nosso lado. Ofereceram pra tirar a famosa foto da família. Foi lindo e delicioso vê-la se acalmar por estar perto de mim. E seguimos com todos os protocolos. Aqueles minutos entre fecharem a porta da sala e o Lucas poder entrar foram suficientes pra me traumatizar. Pra eu sempre lembrar do meu parto como um momento de abandono. Triste. Apavorante. Desesperador! E a vida seguiu!

Eu me tornei mãe! Me apaixonei pela minha vida com a Nina fazendo parte dela! Não me arrependo de nada que aconteceu. Não teria feito diferente. Ela chegou no tempo dela. Cheia de saúde. Se apaixonou pelo pai no primeiro encontro. O nascimento dela faz parte da minha história e me fortaleceu para buscar mais respeito e informação. Eu conheci pessoas novas. Mães maravilhosas. Amigas pra levar pra vida! E descobri que diferente do que vemos em todos os filmes e novelas. A bolsa normalmente só rompe no final do trabalho de parto!! Oi?? Eu fui enganada a vida toda? Como ninguém me contou isso antes? Cadê as minhas 5 irmãs e 7 tias e 1 bebê nascendo por mês na família como era antigamente pra eu saber disso como um conhecimento natural do dia a dia?

E assim comecei a saber que pra ter um parto normal hoje em dia. Só o “querer” não é nem a pontinha do iceberg. Comecei a me informar. Ler relatos de parto. Participar de grupos do facebook. Mesmo os mais radicais (Era só filtrar as informações). Me informar sobre doulas. E engravidei do meu filho. De novo uma gravidez super saudável. Só mais cansativa pois já tinha a Nina não me deixando descansar tanto quanto eu gostaria! Frequentei todos os encontros do grupo Mandala de doulas desde o momento que soube que estava grávida. Ganhei força, confiança, segurança. Pois tinha informação! E era tudo que eu precisava para mudar minha história.

E de repente tudo começou a se repetir. Fui para o pronto socorro com bolsa rota. Mesmo discurso do plantonista. Só que dessa vez eu entendia tudo que ele me falava. Ele me explicou que como a bolsa estava rompida. Poderia acontecer uma infecção. Mas eu sabia que bolsa rota não é indicação para cesárea! Ele me examinou e constatou que o colo do útero estava fechado. Disse que o trabalho de parto não parecia que ia acontecer. Como se fosse possível prever tal coisa. E eu mantive a calma pois eu sabia que o colo fechado não é indicação pra cesárea! Fui encaminhada para os exames. O líquido amniótico estava baixíssimo! O ultrassonografista disse que era perigoso! Mas eu sabia que líquido baixo não é indicação pra cesárea! Voltei pro plantonista. Ele estava trocando de turno e tentou me encaminhar pra cesárea. Eu questionei se eu e meu filho estávamos bem. Ele disse que sim! Então pedi que me internasse e na manhã seguinte conversaríamos! Já que ele voltaria pro plantão as 7:00. Ele começou a preencher os papéis e indicou jejum. Eu estava sem comer desde o almoço e eram 22:00! Eu argumentei e ele disse que era caso eu resolvesse fazer a cesárea durante a noite. Dei risada e falei: eu não vou resolver fazer cesárea durante a noite! Pode me dar janta! E pro meu marido também por favor! E fomos pro quarto. Jantamos e dormimos! Naquela noite tive contrações super leves de hora em hora. Acordei às 7:00 e elas pararam imediatamente. Foi só o lado racional começar a funcionar! E começaram as visitas das enfermeiras, Plantonistas… Parecia piada:

– E aí? Vamos pra cesárea?
– Não, obrigada!
– E agora? Vamos?
– Ainda não? Eu te levo!
– Ah vamos vai!carol

Voltando pros detalhes: Vi que não me deram café da manhã. De novo! Ah vai que precisa de cesárea né! Reclamei e tomei meu café da manhã. Vai que dava certo meu parto normal né, precisaria de energias. Até que o obstetra veio me ver: e aí? Resolveu? Conversamos sobre a indução. O que poderia ser feito. Ele tentou me convencer que a porcentagem de mulheres que respondem à ocitocina sintética pós cesárea é baixíssima! Desculpa! Não entendi a relação mas não tinha interesse em argumentar. -Se eu tentar e não der certo, tem algum risco pra mim e pro meu filho? -Não! -Vamos tentar pelo menos doutor? E fomos pra indução! Era cerca de 11:00. Ele passou uma dose super baixa. E menos de 5 minutos depois as contrações começaram! Suaves, gostosas! Ficava meio grogue nos intervalos delas! Mas ainda lembrei de pedir meu almoço. Acho que tinha medo de faltar energia pro trabalho de parto, ou talvez, fosse só uma desculpa porque gosto de comer mesmo! Só que o almoço já não desceu por causa do trabalho de parto. A Lu (minha doula querida) estava lá comigo e me ajudou muito. Nas massagens. Na banheira. Na água quente. De tempo em tempo os médicos vinham para monitorar os batimentos cardíacos do Max.

Em algum momento a obstetra tentou me convencer a fazer a cesárea já que o ultrassom dizia que o Max pesava 4kg, mas eu sabia que bebe grande não é indicação pra cesárea. Ai ela tentou já me vender a ideia da episiotomia. E eu dizia pra ela que ele não pesaria tudo isso. Pois eu sabia que bebe grande não é indicação pra episio!

Fizemos o primeiro toque: 4 cm! Foi emocionante! Realizador! Eu funciono! Meu corpo funciona! Eu sou capaz! A ocitocina funciona em mim! Eu sou mulher! Eu sou mãe! Eu sou completa! Eu chorei dentro de mim! E continuamos com as massagens, banhos, caminhadas… As contrações continuavam. O intervalo entre elas foi sempre muito pequeno e o que estava prazeroso foi me cansando. Me deixando meio tensa. Eu não encontrava posição pra lidar com as contrações. Não estava conseguindo lidar com a dor e o meu lado racional começou a pesar todas as informações que eu tinha. Tudo que eu tinha de memória ruim da cesárea. Será que eu não conseguiria passar por aquilo de novo? Seria tão rápido. Eu superaria. Seria mais fácil do que aguentar aquelas contrações que vinham muito mais rápido do que eu queria. Meu desejo era poder pausar pra voltar dali a pouco. Os intervalos eram curtos. As dores fortes.

Já era quase 18:00. Eu estava em pânico. Queria parar de sentir a dor! Estava decidida!. Pedia pra Lu tirar o acesso pra mim. Dizia: “tira, Lu! Você é enfermeira, você sabe!” E ela toda querida, doce, fofa me disse: se eu fizer isso eu nunca mais poderei entrar aqui! Pensei, pensei… resolvi pedir a cesárea! Depois tive que ter coragem pra contar pro meu marido e pra minha doula que eu tinha mudado os planos. Não foi tão fácil afinal eu tinha passado 9 meses ordenando que eles não me deixassem fazer aquilo!! Deve ter sido engraçado! Em seguida a obstetra chegou pra me examinar novamente (não lembro se examinou) e eu disse que queria a cesárea. Ela dizia que eu precisava da cesárea porque meu trabalho de parto não estava evoluindo. Mas eu sabia que o trabalho de parto não evoluir 1cm/hora não é indicação para cesárea.

Eu sabia que iria pra cesárea porque eu escolhi e não por indicação dela! (Só eu sabia a importância disso) E fui pro centro cirúrgico! Chegando lá a anestesista veio me explicar que meu marido logo estaria comigo. Eu nem deixei ela terminar a frase. Expliquei que entraria em pânico se ficasse lá sozinha. Que não queria apelar, mas se necessário eu iria exigir meu direito de acompanhante. Ela olhou bem nos meus olhos. Respirou fundo e disse que ele poderia entrar. Na verdade a conversa não foi tão curta e calma assim! E assim comecei a reviver toda a ansiedade de ter meu filho nos braços. 38 semanas e 5 dias! Os dois nasceram com o mesmo tempo, no mesmo hospital, no mesmo centro cirúrgico, mesma sala. Tomei a anestesia apoiada no Lucas, conversei com ele o tempo todo. Ele disse que estava com medo de eu ficar brava porque ele tinha me deixado mudar os planos. Rimos. Acalmei ele e expliquei que estava consciente da minha decisão! O obstetra (aquele do plantão do PS) ligou uma música deliciosa no celular. Brinquei com ele que ele me devia uma aposta pois a ocitocina funcionou. Eu já estava amiga da equipe inteira, dessa vez eu fazia parte do evento! O Max nasceu! Trouxeram ele pra gente. Dessa vez ninguém tirou foto, ainda bem pois era impossível registrar o tamanho da minha felicidade. Era o nascimento dos meus dois filhos que eu vivia naquele momento. Era o renascimento das minhas lembranças. 3.235kg.

-Falei que ele não pesava 4kg doutora! Vocês dois me devem agora!

E depois que acabou eu enxerguei que tudo foi mais perfeito do que eu planejei! Eu poderia ter vivido um parto normal lindo. Eu sempre teria o parto da Nina como uma memória de impotência. E graças à busca de informações, eu consegui reviver tudo do meu jeito. Minhas escolhas. Minhas decisões. Minhas opções. O ciclo se fechou. Tudo se encaixou! Os traumas sumiram. As histórias dos meus dois partos se fundiram e deram lugar a só uma memória maravilhosa de uma história de parto que EU ESCREVI!

Dois filhos, duas cesáreas completamente diferentes!

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