Descobri o Câncer de mama na primeira gravidez
Andrea Andery Ferrari
Mãe do Vicente
♥ “Eu não, eu não sabia que tinha tanta esperança, tanta fé, tanto amor e tanta vida dentro de mim”
Descobri o Câncer de mama na primeira gravidez
A Descoberta
Descobri o câncer de mama durante a minha primeira e única gravidez, em novembro de 2013, estava com 24 semanas. Senti um nódulo na mama direita, de um dia pro outro, achei que já era leite empedrado! Como tinha consulta com minha obstetra 3 semanas a frente, achei que não seria um problema esperar. Sai de lá já com um pedido de ultrassom.
Lembro tanto desse dia, 8 de novembro, me programei para comprar os últimos itens que precisava para o chá do meu bebê e de lá iria para a clinica fazer o ultrassom. O médico que me examinou foi tão cuidadoso que me deixou tranquila e disse que deveria fazer uma punsão. Minha obstetra me encaminhou para a punsão, em outra clínica. A punsão é feita com o auxílio do ultrassom, para saber a localização do nódulo, quando o médico observou as imagens não teve dúvida em concluir que era câncer de mama. De prontidão conseguiu um encaixe com o melhor mastologista de Campinas, dali uma semana.
E assim sai de lá, com esse diagnóstico sem mais, sem menos, por incrível que pareça não foi ali que desmoronei, aguentei firme até o laudo patológico ficar pronto, e fui buscá-lo no dia 14 de novembro de 2013.
Coincidência ou não, foi no dia 14 de novembro de 2004 que conheci meu marido, e 9 anos depois, com nosso filho na barriga, lia aquele pedaço de papel sem conseguir acreditar no que estava escrito. Carcinoma ductal invasivo.
Quando desmoronei
Liguei já chorando para a secretária da minha obstetra, e fui até seu consultório. Me lembro com muita nitidez do que ela me falou: – Andrea, não vai ser fácil, mas vai dar tudo certo, estamos juntas.
Sai de lá e fui até a casa da minha irmã, precisava contar pra ela, precisava de carinho e atenção e consegui, foi duro, mas ela foi tão forte quanto era preciso pra que eu não me desesperasse.
Nesse dia não consegui trabalhar. Esperei meu marido chegar e só podia chorar. Não comi por 4 dias, só o necessário pra não enfraquecer e prejudicar a gestação, perdi 3 Kg.
Dia 15 de novembro de 2013, meu pai festeiro, resolveu reunir a família e primos para uma Paella, contei aos meus pais no fim do dia quando todos já haviam ido embora. Foi muito difícil, a principio minha mãe não entendeu que eu já tinha um diagnostico que era câncer de mama e que tudo bem falar C A N C E R D E M A M A, não ia me deixar com mais ou menos câncer! Choramos muito. E passamos os dias mais apreensivos de nossas vidas, até a consulta com o mastologista.
Conhecendo o Câncer de Mama
Com o feriado, houve um problema na agenda dele, esperamos 7 horas para ser atendidos. Sem reclamar, não arredamos pé, esperamos com uma paciência que não sabia que tinha. Entramos em sua sala e fomos recebidos com muita tranquilidade e assertividade. Foi libertador conhecê-lo, entender sobre a doença, as chances, a CURA.
Entendi que não iria morrer, não disso, não naquele momento, não tão já, não tão hoje, não tão agora, mas sim um dia, como qualquer um. Ele explicou o passo a passo do tratamento e nos passou a confiança que precisávamos. Faria a cirurgia em uma semana. Deveria fazer a cirurgia antes do tratamento quimioterápico. E assim aconteceu, em 25 de novembro fiz a cirurgia, correu tudo bem, o Vicente ficou acordado durante toda a cirurgia, apesar da anestesia geral.
Aceitação
Quando meu médico foi falar com meu marido e minha família, disse: “Ela está curada! Agora partiremos para o tratamento preventivo” e sem jamais duvidar disso, assim me senti, curada.
Precisei fazer a primeira quimioterapia (um mês após a cirurgia) antes do Vicente nascer, isso foi muito difícil pra eu aceitar “numa boa”, chorei durante toda a aplicação. Uma enfermeira passava e dizia: não chora… e eu dizia: você está me vendo chorar só hoje, porque meu bebê esta aqui comigo, mas na próxima serei só eu, não vou chorar mais! E assim foi, todas as aplicações seguintes, foram tranquilas, sim, tranquilas! Só ficava muito cansada fisicamente, sem disposição pra nada. Durante todo o tratamento meus pais foram essenciais e estiveram presentes me auxiliando com o Vicente, porque afinal a vida continua, eles podiam me ajudar e meu marido precisava voltar ao trabalho, mas sem nunca descuidar de nós 3.
Desapego
Os cabelos, que para os outros era:”é só cabelo”, eram tudo de mais lindo que a gravidez me deu (além da barrigona). Eles estavam lindos como nunca, já tinha bem menos cabelos que na minha juventude, mas ainda assim, estavam lindos. Sabia que perderia muitos cabelos com a quimio, resolvi que após a primeira aplicação faria um corte bem curto (que alias sempre usei cabelo curto) pra poder raspa-los quando chegasse a hora. O parto do Vicente foi programado para o dia 17 de Janeiro, sexta-feira, estaria com 37 semanas e 3 dias de gravidez, e naquela semana de segunda pra terça-feira, me lembro como se fosse hoje, fui dormir chorando porque vi uma falha enorme na parte de trás da cabeça, havia decidido raspar o cabelo, não queria ficar recolhendo cabelos por tudo.
E junto com meu marido, resolvi raspar no dia seguinte e foi a melhor coisa que fiz, não foi um momento triste, nós acabamos rindo da situação porque sobrou pra ele raspa-los, oficialmente passou a ser meu cabeleireiro particular (tudo bem esclarecido com meu super cabeleireiro Matheus, rs). Usei os lenços “numa boa”, alias me adaptei super bem a eles (até tentei usar peruca, mas não gostei).
A chegada do Vicente
E então, no dia 17 de Janeiro de 2014, nosso presente de Deus chegou! Fiz cesárea, o parto foi muito emocionante, o Vicente nasceu com cabelo, é eu estava careca, mas ele cheio de cabelo, com 2,915kg e 46,5cm, pequeno e cheio de amor. Sabe quando você sabe que vai passar por alguma coisa muito, muito, mas muito ruim e mesmo assim não consegue ser negativo?
Me senti forte!
Eu não, eu não sabia que tinha tanta esperança, tanta fé, tanto amor e tanta vida dentro de mim, que seria capaz de me conduzir com a maior leveza que eu jamais senti em qualquer outro momento da minha vida por esse momento, que não só eu sofria, mas também meu marido, meus pais e toda minha família.
Eu sabia de onde vinha, do meu bebê, do meu filho, que eu ainda não conhecia o rostinho e meu companheiro no nosso maior desafio juntos.
E se no dia 14 de Novembro, eu recebi a pior noticia da minha vida, nesse próximo dia 14 de novembro completaremos 12 anos lado a lado, e com o coração transbordando de gratidão e alegria que agradeço a ele por ter sido “duro na queda” e muito parceiro.
Gratidão!
Minha gratidão ao meu marido, aos meus pais, irmãos, cunhado e a prima Márcia, que não arredou pé da sala de cirurgia nos dois momentos que estive lá.
Dra. Adriana Salzani, Dr. Cesar Cabello e Dra. Suzana Ramalho, vocês não são só os melhores profissionais que salvaram minha vida, mas os mais humanos e parceiros, obrigada!
Aproveito para agradecer aos meu familiares e amigos, todos, que em pensamento e como puderam estiveram comigo, porque no desfecho da vida é isso que conta.
Escrevi esse texto a pedido do blog e com muita esperança de ajudar outras mulheres, outras famílias, por isso blog Mães Amigas, obrigada pela oportunidade em compartilhar nossa história.
Espero que você que está lendo esse texto agora, olhe pra si com o maior carinho do mundo e comece a se cuidar, se ainda não faz isso. Nós somos responsáveis por nosso bem estar e prevenir qualquer doença cabe a nós, por isso cuide de você, não só no outubro rosa mas durante o ano todo.