Consegui ter um trabalho de parto com o mínimo de intervenção hospitalar possível

06.03.2018 – Consegui ter um trabalho de parto com o mínimo de intervenção hospitalar possível e, quando decidi compartilhar essa experiência com outras mães, optei por escrever o relato do parto no formato de linha do tempo.

Isso porque, para mim, é muito importante organizar cronologicamente o dia em que eu dei à luz o meu filho, tendo em vista que na partolândia não tem relógio e, dessa forma, é pertinente deixar-se perder a noção de tempo.

 

Fernanda Lima Pimentel
Mãe do Raul, de 5 meses

 

♥ “Deitada na cama, senti vontade de desistir. Eu estava cansada, com muita dor e dilatação insuficiente. Por achar que era cedo demais para ceder, me senti mal e chorei ao sentir uma sensação de fracasso.”

 

 

O meu plano de parto era muito simples: fiz todo o pré-natal no Caism (Hospital da Mulher da Unicamp) já sabendo que eu não queria ficar hospitalizada algumas horas antes de dar à luz, pois desejava parir com o mínimo de intervenção hospitalar possível durante o trabalho de parto.

Por isso, optei por contratar a enfermeira obstetra Olívia Separavich para fazer o acompanhamento pré-parto na minha casa. O objetivo era ficar na residência até os  “45 do segundo tempo” e me locomover até a maternidade só para conceber.

Também fiz questão da presença da minha mãe durante o trabalho de parto, tendo em vista que, por ser médica e já ter atuado como ginecologista obstetra, ela poderia me dar apoio emocional e técnico.

No dia 21 de setembro de 2017, fui pela primeira vez à uma consulta no pronto atendimento do Caism (antes, o acompanhamento era feito na clínica de pré-natal). Na ocasião, fiz um cardiotoco, que não acusou contrações, e uma amnioscopia – líquido claro, tudo ok.  “Retorne em 3 dias”, disse a médica.

Eu estava com 40 semanas de gravidez, muito cansada e ansiosa pelo momento do parto e sentindo os pródromos há cerca de uma semana.

Naquela noite, travei uma discussão com o André, meu marido, na qual expressei minha frustração por ainda não estar sentindo sintomas intensos que indicassem a proximidade do momento de parir. Lembro que reclamei também do fato de estar cansada demais para aguentar mais uma ou duas semanas de gestação.

Chorei bastante, mas nós nos entendemos e fomos dormir por volta de 2h40 da manhã. A partir daí, passo a relatar todos os acontecimentos em ordem cronológica.

Consegui ter um trabalho de parto com o mínimo de intervenção hospitalar possível

* Horários baseados em mensagens trocadas entre o André e a parteira Olívia e também entre minha mãe e minhas irmãs no dia 22/09/2017, véspera do meu aniversário de 33 anos.

2h45 AM: Começo a sentir contrações fortes, diferentes das que vinha constatando antes. O André começou a monitorar a frequência e a intensidade das constrições por um aplicativo, como já vínhamos fazendo há alguns dias.

3h20 AM: Após 30 min, percebemos que os intervalos estavam mais ou menos constantes e mandamos os prints da tela do app para a Olívia. O André ligou para a enfermeira obstetra. Nesse meio tempo, decidi entrar no chuveiro e fiquei lá por 1 hora. Muitos pedaços do tampão saíam e as contrações não cessavam.

5h15 AM: Eu e meu marido ligamos novamente para a Olívia e pedimos para que ela viesse até a nossa casa. Telefonamos também para a minha mãe.

6h30 AM: Minha mãe chegou e fez o procedimento de toque em mim. Eu estava com 4 cm de dilatação e contrações que aconteciam a cada 3 ou 4 minutos.

7h00 AM: A Olívia chegou, mediu minha pressão e ouviu os batimentos do bebê. Tudo sob controle.

8h00 AM: Minha mãe e a Olívia sugeriram que eu e meu marido fossemos dormir um pouco, pois nós estávamos cansados após passar a madrugada acordados (foto 1). Dormi em meio a contrações com intervalos de 3 min. Adormecia profundamente, acordava com dor e “apagava” de novo.

9h00 AM: Acordamos de vez. Minha mãe fez o toque novamente e constatou que eu continuava com 4 cm de dilatação. Fui para a banheira (fotos 2 e 3).

10h00 AM: Após um tempo na banheira, voltei para a cama ainda com contrações de 3/4 minutos. Enquanto estava deitada, senti, pela primeira vez, vontade de desistir. Eu estava cansada, com muita dor e dilatação ainda insuficiente. Por achar que era cedo para desistir, me senti mal e chorei por causa da sensação de fracasso. O André me deu apoio e eu decidi voltar para o chuveiro, numa tentativa de diminuir as dores e melhorar o meu humor.

11h00 AM: No chuveiro quente, as dores ficavam mais suportáveis. Fiquei em baixo da ducha de água por mais de 2 horas. Em alguns momentos, o André trazia mel para eu comer, mas eu estava sem fome. Bebia água apenas para me hidratar, pois não sentia sede. Não queria desistir, apesar da dor. Minha mãe, já muito angustiada, dizia que estava tudo bem em ir para o hospital. Conversei com o André e pedi para ele chamar a Olívia novamente. Eu precisava de apoio e de novas posições pra ajudar a aliviar a dor.

13h25 AM: Quando a Olívia chegou, eu ainda estava no chuveiro. Ela sugeriu que eu voltasse para a banheira. Enquanto o André trocava a água por uma mais quente, continuei no chuveiro. Quando saí, fui para o quarto e me debrucei sobre uma pilha de almofadas que estava em cima da cama. Pedi para o André ficar comigo. Ele me abraçou e me deu apoio enquanto minha mãe e a Olívia terminavam de encher a banheira.

14h20 AM: Ao levantar da pilha de almofadas após uma contração muito forte, percebi a água da bolsa escorrendo pelas minhas pernas. Muita água! A banheira estava quase pronta para que eu voltasse.

14h35 AM: Banheira pronta! Me levantei da cama e, nesse momento, caiu no chão um pedaço enorme de uma espécie de gelatina marrom escura. Eu havia finalmente perdido todo o tampão. Fui para a banheira e fiquei lá com o André. As contrações estavam fortes, mas a água aliviava a dor. A Olívia ouviu o coração do Raul pela água (fotos 4, 5 e 6, tiradas às 15h).

15h30 AM: A Olívia me disse para pensar em sair da banheira, porque junto com o alívio, vinha também uma desaceleração do trabalho de parto. Saí da água junto com o André e fomos caminhar pelo jardim (foto 7). Em seguida, voltei para o chuveiro.

16h20 AM: Cheguei ao meu limite! Após o rompimento da bolsa, as contrações se intensificaram muito e eu ainda estava com 6 cm de dilatação. Lúcida, decidi ir para o hospital. Queria ser sedada e acordar só com o bebê no colo! Pedia anestesia, não aguentava mais sentir dor. Então eu coloquei um vestido, uma calcinha com um absorvente enorme (ainda escorria líquido amniótico) e entrei no carro reclamando muito de dor. Não conseguia sentar no banco de trás. Por isso, fui ajoelhada no banco. Tive umas 2 contrações até o Caism, que fica a 3 minutos de distância de casa.

16h50 AM: Cheguei no pronto atendimento do Caism junto com a minha mãe e o André. Apresentava fortes contrações, gritava, grunhia e não conseguia falar! Foi o meu marido quem explicou tudo na recepção enquanto eu me apoiava nas cadeiras, sob a cara de espanto das gestantes que aguardavam atendimento.

Rapidamente, nos encaminharam para a sala de triagem, onde fomos amparados pela mesma estudante que havia me atendido no dia anterior. Ela me pediu para colocar a camisola – coisa que eu fiz em meio a gritos – e solicitou que eu deitasse na maca para que fosse feito o toque.

Nessa hora, tive a primeira contração com vontade de empurrar! Disse isso e falei que não conseguia deitar, pois doía mais! A estudante e o André me convenceram, afinal. Eu me lembro de gritar muito. Ela não conseguiu fazer o toque e chamou a residente, que fez o processo e disse baixinho “tá de 9 pra 10”. A partir daqui, eu me lembro apenas de flashes.

Pareceu tudo muito rápido: trouxeram a maca, tiraram meus brincos e subiram comigo para o centro cirúrgico. O André ficou junto a mim o tempo todo, exceto quando foi colocar a roupa para entrar na sala de parto. Eu me lembro de gritar e xingar a cada contração. Me recordo também de entrarem muitas pessoas na sala – umas 7 -, todas bem humoradas, me cumprimentando e dizendo “Nossa, você veio aqui ontem fazer o cardiotoco” ou então “Você é a moça que chegou chegando?”

Os médicos e enfermeiros arrumaram minhas pernas em posição ginecológica, pois essa era a única maneira que me possibilitava ficar na maca do centro cirúrgico. Pedi anestesia novamente. Me disseram que o anestesista estava atendendo 2 emergências e que, naquele momento, eles só poderiam me dar anestesia local. Olhei para o André procurando aprovação e acabei aceitando.

Rapidamente, aplicaram o anestésico dos dois lados do períneo. Em meio às contrações, eu sequer senti a dor das picadas.

Partolândia

Ao meu lado direito, havia uma enfermeira. O André estava do lado esquerdo. Ele me falava “Isso, Fê! Vai, Fê!”, me dando força. Eu ainda gritava. A enfermeira disse para eu me concentrar na dor que sentia lá em baixo e fazer forças longas – algo semelhante à força despendida para fazer cocô.

Então eu não gritei mais. Segui com os olhos fechados essa instrução e, entre uma contração e outra, deitava a cabeça para relaxar. A cada nova constrição, uma nova força. A profissional também me instruiu a segurar no ferro dos apoiadores de perna e puxá-los, para auxiliar no movimento para baixo.

De olhos fechados, eu ouvia as vozes da enfermeira e do André me dando orientações e força, respectivamente. Toda a equipe falava alegremente “Isso, Fernanda! É essa a força!” a cada novo empurrão.

Ouvi a médica dizendo que dava para ver a cabeça do bebê. Mais uns empurrões (foto 8) e eu senti a cabeça saindo. A equipe me estimulando, torcendo por mim. Toda a dor acabou às 18h16, quando o Raul nasceu.

O Raul nasceu cansado, molinho. Então, rapidamente o levaram para outra sala. O André exigiu ir junto e também saiu.

Logo entrou uma enfermeira dizendo que o bebê já chegou chorando na outra sala, então não seria necessário aspirar. Eu ouvia tudo aquilo como se estivesse drogada, fora do meu corpo.

Na sala do pós-parto, eu soube que o André exigiu que levassem o bebê para eu ver antes de fazerem os procedimentos costumeiros. Então ele entrou e eu vi o meu filho pela primeira vez. Ele estava chorando e, quando ouviu minha voz, ficou quietinho. Tiramos uma foto (9) e então o levaram novamente. O André foi junto para autorizar os procedimentos.

Eu estava bem, ou mais do que bem! Só queria que tirassem minhas pernas daquele apoio. A médica explicou que, para isso, era necessário esperar sair a placenta. Isso aconteceu logo em seguida e então eu pedi para ver essa parte do meu corpo. Lindo órgão!

Tive laceração grau 1 e tomei um ponto de cada lado do períneo. Ouvi a médica explicando ao médico residente que eles não fazem episiotomia no Caism e, por isso, ela segurou meu períneo para evitar mais rompimentos. 4 dias depois, eu deixei de sentir os pontos.

Ainda numa sala de pós parto, fui recebida por uma enfermeira muito simpática. O Raul chegou logo depois com o André para o contato pele a pele (fotos 10 e 11). Eu não reconheci o rosto do meu filho, mas assim que ele se acomodou, reconheci o joelho que ficava me pressionando lá de dentro!

O Raul não pôde mamar já quando chegou para o contato pele a pele, pois como eu “cheguei chegando”, a equipe não teve tempo para coletar o meu sangue e fazer o teste de HIV. Só quando saiu o resultado do exame, mais de 1h depois, meu filho mamou. No final, ficamos quase 2h no pele a pele até irmos juntos para o quarto.

Chorei muito ao escrever esse relato. Foi um dia forte, difícil, único. Dito tudo isso, tenho algumas observações pessoais a fazer:

♥ Eu preparei uma playlist para ouvir durante o TP (trabalho de parto). No entanto, a música teve, no meu TP, um efeito reverso: ela me irritava profundamente, a ponto de eu pedir para que ela fosse desligada.

♥ A bola de pilates não foi um bom meio de amenização da dor para mim. O chuveiro quente foi o campeão, seguido da banheira.

♥ Lembro de ter sentido cãibras nas panturrilhas durante as contrações de expulsão, mas não senti a dor delas.

Galeria de fotos

 

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