Baixa produtividade ocasionada pelo ciclo menstrual: mito ou verdade?

27.08.2018 – Baixa produtividade ocasionada pelo ciclo menstrual, segundo a fisioterapeuta e pesquisadora do feminino e especificidade das mulheres Cris Ferrari, é uma situação real para muitas mulheres.

“Os nossos hormônios sobem e descem todos os meses para que o corpo seja fértil, deixando as emoções à flor da pele. (…) É claro que cada uma de nós reage de uma forma a esse feito por conta da genética e, principalmente, do estilo de vida”. Saiba mais no texto escrito pela profissional!

 

Cris Ferrari

Mãe do Lucas, de 6 anos, graduada em fisioterapia pela PUC Campinas e mestre na mesma área pela Unimep. É também pesquisadora do feminino e especificidades das mulheres, Personal and Professional Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e produtora de conteúdo.

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Costumamos separar mente e corpo físico como se o movimento de um não influenciasse o movimento do outro. Mas somos uma unidade. Estamos integrados! Nossa emoção influencia a forma que respiramos. Nossos músculos se moldam de acordo com a pressão, com a cultura e com os estímulos que recebemos.

Com os nossos hormônios não é muito diferente. Invisíveis, eles sobem e descem todos os meses para que o corpo seja fértil, deixando as emoções à flor da pele. E isso não é uma fraqueza. É claro que cada uma de nós reage de uma forma aos efeitos dos hormônios por conta da genética e, principalmente, do estilo de vida.

Logo, não vale acreditar que é somente esse festival de hormônios que dita o nosso humor: a maneira como vivemos também! E mais, talvez seja exatamente a maneira como vivemos a vida que esteja influenciando tanto a nossa percepção sobre o nosso ciclo. Está aí a importância de cada uma observar a si mesma e descobrir o seu próprio corpo.

 

“Talvez seja exatamente a maneira como vivemos a vida

que esteja influenciando tanto

a nossa percepção sobre o nosso ciclo”

 

Não existe regra e esse sistema, todo orquestrado, sofre muita influência de fatores externos. Alguns deles são estresse, excesso ou a falta de atividade física, alterações na tireoide, uso de medicamentos, anorexia, traumatismos e tumores cranianos e algumas doenças crônicas. Essas ocorrências fazem com que nenhum ciclo seja igual a outro.

 

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Explicação

O estrogênio é responsável por preparar o sistema reprodutor feminino para a fecundação. Assim que termina a ovulação, se não houver a fecundação, nenhuma das funções desempenhadas pelo órgão teve sentido. Acontece, então, a queda dos níveis do estrogênio que, como bem percebemos, influencia o nosso humor.

Isso acontece porque hormônios também agem à distância. É no cérebro que acontece essa relação do estrogênio com o humor. Lá existem receptores de estrogênio que afetam o comportamento. Lá também acontecem complexas interações entre esse hormônio e a serotonina, o principal neurotransmissor envolvido na ansiedade e na depressão. Os dois são como uma dupla: quando um está elevado é provável que o outro também esteja.

E serotonina é tudo que há de mais precioso para o nosso estado tranquilo de enxergar a vida. Ela nos dá a sensação de que está tudo sempre bem. Se as suas taxas estão elevadas, quase nada incomoda, nem mesmo o suco derramado na hora do almoço. Conseguimos até rir disso. Mas se a serotonina está baixa… SOCORRO! Ferrou. Tudo parece ser um problema. A sensibilidade fica aflorada e nós ficamos mais rabugentas, irritadas e insatisfeitas. É aí que aquele mesmo suco derramado gera um grito de raiva!

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Hormônios nos tornam sensíveis a todas as emoções – inclusive ao amor. Por isso as mulheres são mais conectadas aos outros, constroem mais intimidade, têm mais facilidade para o cuidar. E isso não é ruim. Não precisamos desejar que seja diferente. Buscar soluções agressivas ao corpo, como emendar uma cartela de anticoncepcional na outra para não menstruar ou recorrer a antidepressivos para melhorar o nosso humor, é querer nos livrar da nossa natureza.

A resposta está dentro de nós. Podemos nos olhar com outros olhos e aproveitar melhor cada uma das fases do nosso ciclo menstrual, afinal, no fundo, no fundo, assim é a vida e a natureza: cíclica.

 

Comprovação científica

A redação do Mães Amigas teve acesso ao artigo “Influência das fases do ciclo menstrual no desempenho funcional de mulheres jovens e saudáveis”, publicado na Scientific Electronic Library Online (SciELO). O texto diz que os hormônios sexuais femininos têm relação com receptores específicos localizados em regiões cerebrais e podem, por isso, influenciar o controle motor. A constatação se deu através da análise do desempenho funcional nas diversas fases do ciclo menstrual de 13 mulheres jovens e saudáveis.

“Para a avaliação do desempenho funcional, foram utilizados três testes funcionais (que analisam o desempenho motor) diferentes: Side Hop Test (SHT), Figure of Eight Hop Test (F8T) e Modified Star Excursion Balance Test (mSEBT), aplicados em três fases do ciclo menstrual (menstrual, ovulatória e lútea). Este estudo estabeleceu diferença significativa para os testes funcionais SHT e F8T entre as fases do ciclo menstrual, com piores resultados para a fase menstrual. O mSEBT não estabeleceu qualquer diferença. Concluiu-se que o desempenho funcional nos testes SHT e F8T foi significativamente pior na fase menstrual, quando comparado à ovulatória e lútea. Estes resultados podem ser considerados para avaliação e prescrição de condutas fisioterapêuticas para mulheres na fase menstrual, já que seu desempenho funcional pode estar comprometido”, diz o texto.

Créditos da pesquisa: Aline Tiemi Kami, Camila Borecki Vidigal e Christiane de Souza Guerino Macedo.

 

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@ Mães Amigas

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