Meu sogro teve câncer de mama
16.10.2013
Laila Leonel
Mãe do Diogo (1 ano e 7 meses)
♥ A biomédica conta a história de seu sogro, que teve câncer de mama, doença que também pode atingir os homens. #outubrorosacampinas
Um caso masculino
Todos nós sempre ouvimos falar do câncer de mama e é natural associarmos a mamas femininas, já que em homens é raro e representa menos de 1% dos casos (INCA, 2012). Mas, estou aqui para contar um pouco sobre um caso que ocorreu com meu sogro, de 58 anos, e sua trajetória.
Tudo começou quando ele sentiu um nódulo endurecido atrás do “bico” do peito acompanhado de secreções que chegavam a sujar a camisa. Ele demorou cerca de dois meses até ir a um Pronto Socorro, onde, após analisado e realizado um raio x, foi orientado a procurar um mastologista, já que no exame apareceram nódulos. Foi encaminhado a um mastologista, que pediu uma série de exames, inclusive um biópsia.
Poucos dias depois vieram os resultados e, para nossa tristeza, o diagnóstico de câncer de mama.
Ficamos todos muito chocados e tristes, nos sentindo sorteados em um tipo de “mega sena do azar”, pois realmente esta doença é rara em homens. Mas, como deve ser feito, nos unimos e meu sogro em nenhum momento se entregou ou duvidou de sua cura.
A cirurgia foi marcada e correu muito bem e, após 40 dias, se iniciou a quimioterapia. Na maioria dos casos, as pessoas se sentem fracas, têm enjoos e outros sintomas como reação a esse tratamento, mas a fé desse homem era tão grande, que ele não sentia nada, fazia a sessão e voltava a trabalhar. O único efeito colateral que ele não escapou, foi a perda de cabelos. Logo que começou a cair, ele decidiu raspar. Perdeu o cabelo, mas ganhou uma coleção de chapéus! Pois cada um que via um modelinho diferente logo comprava e o presenteava.
“Tudo aconteceu por acaso, como todos os dias amanhecem, só que naquele foi diferente, pois notei que havia algo de errado com a minha camisa, que estava manchada de algo muito estranho. Passei a observar até que apareceram marcas de sangue. Procurei imediatamente um Pronto Socorro e, para a minha felicidade, após consulta a médica plantonista me recomendou procurar um Mastologista, e foi que eu fiz.
Após consulta, passei por uma série de exames até descobrir que eu estava com câncer de mama. Isso tudo ocorreu um dia antes do batizado do meu primeiro neto.
O mundo caiu. Fiquei muito assustado com tudo isso, pois a primeira coisa que vem à cabeça é que estava chegando um momento que eu não estava preparado para aceitar, mas que ninguém poderia passar por mim.
Agradeço de coração o Mastologista Dr. Pablo, que foi o meu anjo de guarda e que me animou com uma boa dose de paciência e atenção e me colocou para cima.
Desse dia em diante, passei a encarar as coisas com mais sabedoria e paciência, notei que a minha ansiedade diminuiu muito. Faltava dar prosseguimento ao que me aguardava.
O Dr. Pablo fez a cirurgia, conversou bastante comigo quando eu voltei da anestesia, e me disse que tudo havia corrido bem, e que deste momento em diante, tudo ficaria sob minha responsabilidade.
Isso me animou ainda mais, fui encaminhado por ele ao Dr. Agnaldo (Oncologista), que também me recebeu muito bem, e me disse que eu teria de fazer quimoterapia, me apresentou todos os efeitos que estaria sujeito a passar, mas que o meu caso, por ter sido descoberto rapidamente, teria uma grande chance de cura.
Iniciamos o tratamento. Foram seis estágios de 21 dias cada.
Neste período, aprendi que a minha dor era muito menor que as dores que eu presenciava no tratamento, encontrei lá pessoas muito bondosas e cheias de amor e atenção, fiz muitos amigos que estavam por lá se tratando e aprendi que o melhor remédio é alegria e o sorriso. Por eu ter perdido os meus cabelos e ter começado a usar chapéu, recebi o apelido de Moraes Moreira, e todos queriam que levasse o cavaquinho para as nossas sessões. Isso se transformou em uma grande e descontraída brincadeira, para todos.
As atenções que recebi de minha família e de meus amigos foram o ponto alto em tudo isso, eram sempre palavras de carinho e muita oração, o que realmente me fazia muito bem. A cada dia, apesar de fraqueza física em função do tratamento, eu me sentia cada vez melhor de espírito e mente.
Ao fim dos estágios, finalmente recebi a boa notícia: o meu câncer de mama foi embora e me ensinou que vida é para ser vivida a cada momento, não importando se o que era ruim serviu de ensinamento para abrir os olhos todos os dias, e agradecer a Deus tê-los aberto, que este novo dia foi feito para ser vivido e sempre agradecer a todos os que me deram muita força para superar tudo isso”.
Edgley José da Silva, 58 anos
Tratamos a doença esse tempo todo como uma coisa “normal”, algo temporário que estava sendo tratado, teria cura e pronto. Nunca o tratamos com dó e nem o poupávamos de nada, e isso foi fundamental. Mantivemos esse espírito positivo sempre.
As sessões de quimio terminaram e nós comemoramos muito sua vitória! Ultimamente ele faz acompanhamento periódico e vida normal.
Espero que esta história sirva de alerta e que os homens também se atentem aos sintomas, façam o auto-exame e procurem rapidamente uma orientação médica caso notem algo diferente, pois o sucesso do tratamento depende muito da rapidez do diagnóstico.