“Me demiti para cuidar da doença do meu filho e não romantizo isso. Sofri muito!”
Miguel (7) desenvolveu epilepsia noturna após uma meningite bacteriana. Na época, Samara (35) estava prestes a ser promovida. (Fotos: Arquivo Pessoal/Samara Vasquez)
26.11.2018 – Em novembro de 2017, a analista Samara Vasquez, de 35 anos, estava a um passo de ser promovida depois de atuar por 7 anos no mesmo cargo – bastava fazer uma apresentação à gerência da multinacional na qual trabalhava.
A apresentação, porém, não aconteceu. Na madrugada do esperado dia, o Miguel, seu filho de 7 anos, teve uma forte crise de epilepsia noturna. O episódio levou Samara a deixar os planos profissionais de lado e se demitir para cuidar do pequeno. “Sem romantizar o pedido de demissão, eu sofri muito!”, conta. Leia abaixo o relato que Samara nos escreveu.
Samara Vasquez
Mãe do Miguel, de 7 anos, e da Maria Eduarda, de 15 anos
♥ “Sem romantizar o pedido de demissão, eu sofri muito!”
Passei o sábado e o domingo, dias 19 e 20 de novembro de 2017, ensaiando a apresentação que eu faria para a diretoria da multinacional na qual eu trabalhava. Uma vaga estava aberta na coordenação e há tempos eu aguardava uma oportunidade interna.
Pensei no que falar, fiz unha e cabelo, comprei roupas novas. Na manhã da segunda-feira, dia 21, eu estava pronta para ir à empresa, mas decidi ver o Miguel no quarto dele antes de sair. Quando me aproximei da cama, ele jorrou um jato de vômito em mim.
“Tirei toda a roupa,
fiz um coque no cabelo
e falei que a gente ia para o hospital”
Eu tirei toda aquela roupa, fiz um coque no cabelo e falei que a gente ia para o hospital. Liguei para o diretor da vaga que eu concorria, pedi desculpas e disse que eu não compareceria à apresentação.
O motivo de toda a preocupação era que, em novembro de 2016, o Miguel havia sido diagnosticado com meningite bacteriana. Passou quase 1 mês internado, recebendo alta somente no dia 1 de dezembro. Mas ele nunca mais foi o mesmo.
Miguel no hospital, durante tratamento da meningite. (Foto: Arquivo Pessoal/Samara Vasquez)
“A meningite deixou nele uma sequela:
a epilepsia noturna”
Seguimos os nossos caminhos, mas a meningite deixou nele uma sequela: a epilepsia noturna, que veio a ser diagnosticada em exames feitos após a crise que aconteceu na manhã da minha possível promoção.
Naquela noite, ele se debateu tanto que acordou sem sentir as pernas e com muito cansaço. A doença faz com que ele tenha espasmos enquanto dorme. Então, naquela situação, procurei o RH da empresa e me desliguei do mundo profissional. O meu filho precisava de mim.
“Sem romantizar o pedido de demissão,
eu sofri muito”
Sem romantizar o pedido de demissão, eu sofri muito! Atuava há sete anos como analista na empresa, havia sido eleita a melhor colaboradora de 2016, estava em uma exponencial de bons resultados. Mas o amor pelo meu filho falou mais alto.
As pessoas julgam! Dizem “olha teu filho, uma criança perfeita. Você está fazendo drama”. Mas eu o conheço bem! Faz uns 2 anos que eu não durmo, porque ele tem as crises enquanto dorme. Acorda dizendo que o corpo dói, mas não faz ideia do que acontece com ele.
Isso porque, durante o dia, o Miguel é uma criança como todas as outras: brinca no quintal, corre com o cachorro… as crises epiléticas só acontecem quando ele está dormindo.
Aos poucos, me preparo para voltar ao mundo profissional. Nesse mês, prestei a prova do ENEM para tentar uma vaga no curso de gastronomia – uma paixão que eu desenvolvi como forma de cuidar da minha família.
A epilepsia é uma doença controlável com tratamento, que no caso do Miguel, tem duração de 2 anos. A tendência é a estagnação do quadro, mas como eu não sei como será lá na frente, vivo um dia de cada vez.