Parto prematuro do segundo e cirurgia cardíaca do primogênito, tudo de uma vez!
Leticia Regazoli Dessunti
Mãe do Felipe (4 anos) e do Henrique (1 ano)
♥ “Funcionários do hospital entravam no meu quarto se assustavam, perguntavam se eu não era a acompanhante do Felipe. E eu dizia que era até o dia anterior, que naquele momento eu tinha virado paciente também”
20.03.2015 Nossa história começou quando, em uma consulta de rotina, meu coração de mãe me deu um sinal de que as coisas poderiam não estar tão bem quanto imaginávamos. Meu filho mais velho não ganhava muito peso e não crescia quanto era esperado. Nos primeiros anos de vida achávamos que isso era decorrente do processo alérgico que ele tinha. Mas ao completar 2 anos nada mudava, então solicitei que fosse realizado alguns exames. Quando levamos os resultados à pediatra veio a notícia: o raio-X mostrou que o tamanho do coração estava alterado. Diante disto fomos encaminhados a um cardiopediatra. Nessa hora já tinha certeza que um desafio grande nos esperava.
Como foi difícil a espera por esta consulta. Os dias pareciam não passar. Chegado o dia, 02/07/13, tivemos o diagnóstico que ele realmente tinha uma má formação no coração, chamada de comunicação interatrial, ou seja, tinha um buraquinho entre os átrios que não tinha se fechado, e somente uma cirurgia seria capaz de corrigir este problema. Neste momento entramos em choque. Nunca imaginávamos que o Felipe tivesse algo parecido. Sempre foi uma criança ativa, pulava, corria, brincava. Nunca teve nenhum sintoma, nunca ouvimos nenhum sopro no coração. Mas sabemos que tudo na vida tem seu tempo de acontecer. E chegou o nosso. O único problema é que eu estava aos 7 meses da minha segunda gestação. E agora, tínhamos que tomar uma decisão: operar antes do bebê nascer ou depois. E as dúvidas surgiram:
“Será que dará tempo de encontrar um cirurgião que nos atendesse a tempo? Será que a recuperação seria tranquila? Saíamos do consultório arrasados, porém com a certeza de que tínhamos que ser fortes para passar tranquilidade para nosso pequeno.”
A partir daí as coisas foram seguindo seu curso. Conseguimos marcar consulta com dois cirurgiões, tomografia, realizar todos os exames pré-operatórios na semana seguinte. Tudo estava dando certo… Nem acreditávamos que nossos planos estavam se concretizando.
No dia 08/08/13 nosso filho realizou a cirurgia. A primeira etapa foi vencida. Agora faltava a recuperação. Seriam 3 dias de UTI e mais 3 dias de quarto e depois já estaríamos liberados para ir pra casa. Porém no dia em que ele deveria receber a alta da UTI tivemos a notícia que as coisas não estavam tão bem. O coraçãozinho não estava batendo no ritmo que deveria, muito pelo contrário, estava muito lento. Foi necessário ligar o marca-passo externo e nos disseram que havia a possibilidade dele passar por uma nova cirurgia para colocar um marca-passo definitivo. Nessa hora nosso chão se abriu, tudo desmoronou, nossa fé se abalou. Nos sentimos fracos, impotentes, desprotegidos. Chorei na frente do nosso filho pela primeira vez. Mas neste momento entendi que as coisas não seriam do jeito que eu tinha planejado, mas sim seria da forma que Deus tinha planejado para nossas vidas.
Nos apegamos na oração e pedimos que Deus fizesse a Sua vontade, independente da nossa. E nesses momentos de aflição Deus sempre mandava um “anjo” pra nos acalmar. Eles vieram em forma de médicos, enfermeiros, amigos (reais / virtuais) e até mesmo de desconhecidos. Cada palavra, mensagem, abraço nos confortava e nos dava a certeza de que no final tudo daria certo. No dia seguinte era dia dos pais e recebemos nosso melhor presente, veio a notícia de que as poucos ele estava melhorando, que seu átrio estava começando a emitir sinais. Liguei imediatamente pro meu marido (nós não podíamos ficar juntos na UTI, só nos víamos na troca do plantão do hospital) e choramos de emoção.
A partir daí, fomos vivendo um dia de cada vez. Cada melhora era uma conquista muito comemorada. Não formam dias fáceis, muito pelo contrário, foram bem tensos. Mas sabíamos que tinha que ser assim. Na quinta-feira conseguimos ter alta da UTI, fomos para o quarto, mas com a condição que ficaríamos mais uma semana lá em observação. Ficamos radiantes… Poderíamos, enfim, ficarmos, eu e meu marido, juntos novamente com nosso amado filho. Tudo estava voltando aos eixos, se não fosse as contrações começarem a aparecer. Até aí tudo normal, eram as contrações de treinamento (pensei). Mas estava enganada, eu estava entrando em trabalho de parto prematura (estava com 34 semanas). Passei no PS e fui prontamente internada em outro quarto para ficar de repouso.
Novamente entrei em pânico. Não queria que o Henrique nascesse naquele momento. Nos meus planos primeiro iria cuidar da recuperação do Felipe, para depois me dedicar para aquele bebezinho. Mas como de costume, Deus tem outros planos pra gente.
“Enfrentei ao mesmo tempo, um parto prematuro do segundo e cirurgia cardíaca do primogênito.”
A situação chegou a ser até engraçada, pois os funcionários entravam no meu quarto e se assustavam. Perguntavam se eu não era a acompanhante do Felipe. E eu dizia que era até o dia anterior, que naquele momento eu tinha virado paciente também (temos que ver o lado engraçado das coisas sempre). Meu marido não sabia onde ficava… Era um troca, troca de quarto ao longo do dia todo.
No sábado na parte da manhã recebemos a notícia que o eletro do Felipe estava perfeito. Que ele poderia ter alta no dia seguinte. Não precisaria ficar aquele tempo todo internado. Que emoção. Não víamos a hora de receber essa notícia. Mas a tarde, minhas contrações aumentaram e eu tive a notícia que o Henrique nasceria naquele dia. O medo tomou conta de mim novamente. Como nasceria prematuro, tinha a certeza de que ele ficaria na UTI. Não sabia se tinha estrutura para passar por aquilo de novo em tão pouco tempo.
Às 20h15 nasceu nosso pequeno Henrique de parto normal, perfeitinho, formadinho, grandinho, respirando sozinho. Veio direto para meus braços… Não acreditava que aquilo seria possível. Na mesma noite já estávamos todos juntos no mesmo quarto. Ele chegou para trazer a paz que precisávamos.
No dia seguinte, reencontrei com o Felipe (fiquei sem vê-lo por dois dias). Antes de sair do hospital ele me pediu para conhecer seu irmãozinho. Foi a cena mais linda que vi na minha vida. Tivemos que nos separar de novo. Ele foi embora e eu fiquei. Mas não estava triste, e sim muito feliz, pois sabia que em breve estaríamos todos em casa.
Dias depois também tivemos alta. Meu marido e o Felipe foram nos buscar. Saímos todos juntos direto para casa. O dia mais feliz de nossas vidas. No caminho eu só chorava. Passava um filme na minha cabeça. Lembrava de todos os sentimentos, medos, emoções, aflições, orações. Hoje repito esse mesmo gesto e agradeço a Deus por tudo que Ele fez por nós. Por ter colocado em nosso caminho pessoas tão especiais. Cada uma teve um papel fundamental para enfrentarmos essa situação: cuidaram, operaram, deram apoio, nos trouxeram uma palavra de esperança, deram um abraço, derramaram lágrimas junto com a gente, outros as enxugaram, mandaram vibrações positivas.
Hoje, só temos a agradecer pelo ano maravilhoso que tivemos. Descobrimos que como pais somos mais fortes do que imaginávamos e por nossos filhos somos capazes de tudo. Sabemos que outras dificuldades podem surgir novamente, mas com fé, união da família, oração e apoio dos amigo (e isso inclui as mães amigas, rs) podemos enfrentar tudo o que vier. Sempre que a incerteza aparecer, sugiro a seguinte prece:
“Concede-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir uma da outra – vivendo um dia de cada vez, desfrutando um momento de cada vez, aceitando as dificuldades como um caminho para alcançar a paz, considerando o mundo pecador como ele é, e não como gostaria que ele fosse, confiando em Deus para endireitar todas as coisas para que eu possa ser moderadamente feliz nesta vida e sumamente feliz contigo na eternidade”.