UNIVERSO POLYANA: Meu parto prematuro

13.08.2014 – Eu havia completado o sétimo mês de gestação, estava tudo caminhando muito bem e sob controle, e eu jamais poderia imaginar que meu filho estaria chegando ao mundo…Murilo nasceu de parto prematuro de 31 semanas!

Eu não tinha feito chá de fraldas, lembrancinhas de maternidade, lavado as roupinhas, preparado a malinha e o quartinho ainda nem estava pronto para receber meu Murilo em casa. Muitas mães alegam que o segundo filho é bem diferente do primeiro, e comigo não foi diferente, deixei tudo para a última hora, mas não imaginava que o tempo previsto pudesse ser tão diferente do tempo real. Me sinto aliviada de ter conseguido realizar o ensaio fotográfico uma semana antes, por insistência dos meus queridos Octavio Mourão e Claudia Moretto! Um presente que ficará guardado para a vida inteira.

Entrei em trabalho de parto prematuro, sem acreditar claro, às 16h. Dei entrada na Maternidade de Campinas às 19h com 6 dedos de dilatação, perto das 20h eu já estava com 9 dedos, e as 20:39 já ouvia o choro do meu pequeno que simplesmente escorregara através de um parto normal.

Eu ainda não acreditava em tudo que estava acontecendo, e em minutos, muitos porquês vieram a minha cabeça, uma sensação “do que eu fiz de errado” martelava o tempo todo.

murilo prematuro 31 semanas

Murilo após nascimento

Eu não pude pegar Murilo no colo logo após seu nascimento por ele ser prematuro, ou por protocolo do Hospital, eu não sei ao certo. Apenas o cumprimentei, peguei nos seus pezinhos, e lá ia ele para aquela batelada de avaliações pós parto. Meu cabeludinho nasceu pesando 1.935kg e chorava forte ao meu lado, enquanto isso, eu associava que era mãe pela segunda vez, mas com uma experiência completamente diferente da primeira!

Eu era mãe de um prematuro….

E assim, chorei na primeira noite por não ter meu filho ao meu lado no bercinho. A sensação de vazio é inevitável.

A primeira visita a UTI foi fria e assustadora pois ver meu filho em uma incubadora partiu meu coração, e naturalmente, lágrimas escorreram pelo meu rosto sem parar, por mais forte que eu desejava ser. Fios, apitos, luzes, esparadrapos, agulhadas e a presença de um tubo em sua boca foram suas primeiras sensações no mundo externo, longe do colinho gostoso e quentinho que qualquer mãe ansiosa deseja oferecer.

Roupinhas cheirosinhas, estampadas e fofinhas não fazem parte desse universo ainda, pois enquanto os bebês estão na incubadora, as fraldinhas, a touquinha e as gazes, que imitam luvinhas e meinhas, são as únicas peças do seu limitado guarda roupa.

Mas esse foi apenas o primeiro dia, com as primeiras sensações, pois com o passar do tempo, aprendi a ver a UTI com outros olhos, a conhecer mães com as mesmas experiências, e dia após dia, me dei conta que estava evoluindo como pessoa, e principalmente como mãe. Ao todo 32 incubadoras que somam 32 histórias completamente diferentes, mas todas, sem exceção, envolvidas em muito amor, carinho, força, fé e esperança.

Segurando pela 1 vez

No colo pela 1ª vez

Na UTI não existe previsão, tudo acontece à passos de tartaruga em mãos de inúmeras leoas que cuidam carinhosamente das nossas crias.

Murilo teve alta em 1 semana, mas muitos ainda encontravam-se lá há 2, 3, 4 meses.

Já na UCI, Unidade de Cuidados Intermediários, tudo é mais “próximo”. Quando chegamos lá para a visita no primeiro dia, ouvi da enfermeira: “Mãezinha, quando você quiser pega-lo no colo me avisa”… E as lágrimas simplesmente escorregaram dos meus olhos … “Eu vou poder pega-lo?! Agora?!” “Claro mãe!” e eu desabei a chorar. Finalmente, após 7 dias, eu poderia pegar o meu filho no colo, e nesse momento, não existiram palavras que traduzissem o meu sentimento. Da mesma forma que não existiu descrição quando pude coloca-lo no meu peito pela primeira vez, 13 dias após seu nascimento, e ver a capacidade de um ser tão pequenininho aprendendo a sugar.

Amamentando pela 1 vez

1ª vez amamentando

O tempo voa na UCI. Durante 13 dias fiz minhas visitas no hospital das 10h às 17h, para cuidar do meu pequeno um pouco mais de perto. Troquei fraldas, dei carinho, pude amamentar em 3 horários diferentes, das 8 mamadas da rotina dele. Tudo é muito devagar, os procedimentos, o tempo e o ganho de peso. Conheci muita gente querida e me sensibilizei com muitas histórias como bebês que foram abandonados pelas mães e entraram para adoção, bebês com síndromes raras, bebês com ossos de vidro, bebês que nasceram com bem menos de 1kg. O brilho nos olhos das enfermeiras contagiam aquele pequeno espaço que abriga em média 30 bebês que precisam de cuidados diversos, assim como o meu Murilo. Com o tempo aprendemos a compartilhar histórias, a vibrar por cada evolução uma das outras, a chamar a todos pelo nome e não pelo número, a chorar pelas partidas e de uma nova vida que recomeça em casa, finalmente ao lado de sua família. E como arrepia o momento da alta!

E esse arrepio tomou conta de mim nesse último domingo de Dia dos Pais. Já contei anteriormente que meu pai faleceu há 7 anos em um acidente de carro, e deste então, essa data ainda amanhece nebulosa para mim. Na noite anterior, eu orei muito, e conversei com uma querida amiga que sempre me guia e fortalece espiritualmente. Pedi muita proteção para meu pai, como sempre, pois Murilo estava progredindo bem na UCI, e faltavam apenas 40g para irmos para casa.

Em uma data que há 7 anos me faz chorar de saudades pelas manhãs, este ano me fez chorar de alegria. Tenho certeza que ele presenteou a mim e meu marido, com uma alta pra lá de especial, pois ainda faltavam 30g para atingirmos o peso de 1.900kg. Lágrimas escorriam por perceber o quanto esses 20 dias foram marcantes na minha vida. Mãezinhas com diferentes histórias, de diferentes classes sociais compartilham de um único sentimento: a esperança de que tudo fique bem, e de que sim, existe um final feliz.

Que venha a nova fase, com todos os sentimentos que tenho direito!

Obrigada de coração a todos que acompanharam minha história pelas redes sociais e por me enviarem muita força, carinho, orações, histórias compartilhadas e por estarem comigo em mais este momento tão inesperado!

Se você é mãe de UTI e ainda não recebeu alta, acredite no amor, na fé e que para tudo existe um motivo, talvez o sentido esteja somente lá no final! Acredite, tenha pensamento positivo e força! Em breve será você!

Um beijo grande, com cheirinho de neném!!!

Familia Brizolla

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Escrito por: Polyana Pinheiro

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