DIÁRIO DE BORDO: Orlando / Desespero e alívio no final

25.09.2013 – E, no nosso último dia em Orlando, o desespero tomou conta de mim.

De manhã, ajeitamos as malas e depois saímos para as últimas compras. A Ailyn já havia ido para Nova Yorque e estávamos só nós três, eu, meu marido Gui e a Yasmin.

Compramos lembrancinhas para os amigos e familiares, fomos a uma loja de carro para meu marido comprar umas peças de (aliás, aqui foi ótimo, tinha até sorvete na sala de espera e a Yasmin adorou), ainda demos uma passadinha em um outlet e, finalmente, fomos ao Walmart.

Bem, não era um Walmart comum, era um super Walmart, acho que umas 3x o tamanho do Walmart que tem no shopping Dom Pedro, em Campinas. Tem de tudo, de alimentação a produtos para casa, carro, jardim, cosméticos, eletrônicos, roupas, brinquedos e companhia.

Nos dividimos para fazer tudo mais rápido. O Gui ficou vendo produtos para limpeza de carro e eu fui com a Yasmin ver várias coisas. Ela não queria mais ficar no carrinho. Fez um escândalo para descer e ficava correndo na minha frente, desviando das pessoas. Paramos para ela experimentar uma sandália das Princesas. Depois, não queria mais colocar seu sapato e ficou descalça. Aí, começou a “fugir” de mim, correndo para o corredor ao lado. E eu correndo atrás dela. Num certo momento, ela correu para este mesmo corredor e eu fui do outro lado, com o objetivo de dar de cara com ela. Mas ela não estava lá… comecei a chamá-la e fui ao outro corredor… nada! No outro? Nada! Ela sumiu, desapareceu!!!

Em menos de três segundos, eu perdi minha filha!

Eu chamava muito seu nome, corria para todos os lados, olhava embaixo das araras de roupas e prateleiras (onde ela gostava de brincar) e nenhum sinal dela. Minha voz já era de desespero, isso não podia estar acontecendo comigo… Avistei duas funcionárias e disse que minha filha havia sumido, que seu nome era Yasmin e que ela não falava inglês. Uma delas me perguntou a idade dela, respondi que tinha só 2 anos e 8 meses, e perguntou a roupa que ela estava usando. Eu simplesmente não conseguia lembrar! Estava tão atordoada que não lembrava…

DIÁRIO DE BORDO: Orlando / Desespero e alívio no final

Somente ao escrever esta matéria, percebi que eu tinha feito uma foto dela na loja de carro e ela estava com a roupa do dia em que sumiu…

Ela disse que eu deveria ir ao serviço de atendimento ao cliente. Eu disse a ela que não sairia dali, que ficaria procurando. Pensei “de que adianta eles anunciarem, ela não entende inglês…”

Aí, comecei a tentar ligar para o meu marido (para ele me ajudar a procurá-la) enquanto corria pelos corredores, mas ele não atendia (só depois fui perceber que peguei o número recente na agenda do celular e nem tinha o código dos EUA, não ia completar nunca a ligação mesmo…). Enquanto isso, a moça disse pra mim que avisaria lá no tal serviço.

Que medo, enquanto eu corria gritando seu nome, mil coisas passavam pela minha cabeça… era o primeiro e único dia que ela saíra sem a pulseirinha de identificação (todos os dias eu colocava nela uma pulseirinha com seu nome completo e nossos telefones), por que eu não coloquei neste dia?? (lá vem a culpa de mãe, sempre…); eu não tinha feito nenhuma foto sua para mostrar sua roupa do dia; ela não fala inglês; a essa hora já deve ter percebido que se perdeu e deve estar super assustada; estamos em um país estranho; nossa viagem, que havia sido perfeita até então, poderia se tornar na pior viagem de toda a minha vida; e o pior pensamento de todos, ela é linda e doce, alguém pode encontrá-la e roubá-la, e nunca mais verei minha filha novamente… Neste momento, ao escrever este texto e relembrar de cada momento de agonia, estou aos prantos de novo…

Percebi que jamais conseguiria encontrá-la sozinha naquele lugar gigante, me sentia impotente… decidi ir ao serviço de atendimento ao cliente, que ficava bem na entrada da loja, perto dos caixas. Aí, consegui lembrar sua roupa e disse para a mulher que ela usava uma blusa azul, uma saia branca de bolas coloridas e estava descalça (afinal, ela correu porque não queria colocar os sapatos de volta…). E repetia sem parar que ela não sabia falar inglês… Ela me dizia para ficar calma a todo momento. Me perguntou a cor dos cabelos e eu disse “dark”. Não, não, “dark, não”, “brown hair”. Na hora do desespero, o inglês que era tão natural desaparece!

“Fica calma, senhora, parece que a encontraram. A blusa é roxa ou azul?”. “Azul, azul escuro”.

“Olhe ali, é aquela?” E apontou para o outro lado. Vinha uma moça alta, jovem, loira, de cabelo preso, com uma blusa cáqui (diferente das demais funcionárias, que usavam roupa azul claro). E trazia minha filha no colo! Não pensei mais em nada, corri para pegá-la e abraçá-la, só ouvi a moça dizer que a havia encontrado muito assustada e agradeci muito. Nem lembrei de perguntar onde ela estava, isso não interessava mais, já tinha minha filha nos braços de novo e isso era tudo o que importava!

Não me perguntem quanto tempo isso tudo durou. Talvez tenha sido 10 minutos, talvez 20… perdi completamente a noção do tempo!

Ao voltar ao lugar onde havia ficado nosso carrinho de compras e seus sapatos no chão, passei por vários funcionários que falavam “que bom que a encontrou, está tudo bem agora”. Neste momento, eu percebi que todos eles já sabiam, apesar de nenhum anúncio ter sido feito ao microfone. A comunicação foi toda via rádio e acho que todos os funcionários do Walmart já sabiam e deveriam estar atentos para procurá-la. Provavelmente, isso é muito mais comum do que imaginamos e eles estão muito bem preparados para evitar o pior…

A Yasmin estava muda. Não chorava, não falava uma palavra, só ficava agarradinha a mim… Já um pouco mais calma, eu pedi que não fizesse mais isso, que supermercado não era lugar de brincar de esconder porque a gente pode se perder de verdade e que eu poderia nunca mais encontrá-la. Que, se aquele moça não fosse uma pessoa boa, poderia tê-la roubado de mim e ela nunca mais voltaria pra casa. Tentei falar o mais calma possível, mas as lágrimas simplesmente não paravam de escorrer no meu rosto. Pedi que sentasse no carrinho para a gente ir procurar o papai. Ela concordou sem dizer nada e sem resistir, como sempre fazia.

Quando começo a mover o carrinho, o Gui aparece, perguntando porque havíamos demorado tanto. Logo ele viu meu rosto de choro e contei que ela havia sumido e que tinha acabado de encontrá-la. Nos abraçamos muito e fui sentindo que aquele pesadelo tinha acabado…

Ainda terminamos as compras e ela muda. Acabei comprando coisas repetidas e deixando produtos que queira por lá, estava confusa… No caixa, ela no meu colo, batia levemente as mãozinhas nas minhas costas, como que me consolando…

Meu marido me apoiou muito, terminamos tudo sem pressa e fomos para o carro. Na volta para o hotel, fui no banco de trás, de mãos dadas com a Yasmin, que logo adormeceu na cadeirinha.

Ao chegarmos e colocarmos ela na cama, eu simplesmente desabei. Sentei no chão do quarto e chorei como um bebê, aquele choro sentido, de soluçar e tentar colocar pra fora a aflição, o desespero e a angústia que eu havia passado. Devo ter ficado assim por uma hora. Eu sabia que já estava tudo bem, mas as imagens não saiam da minha mente e aquela culpa de quase ter perdido a minha própria filha me consumia. O Gui me abraçou e me deixou chorar, foi o conforto que eu precisava.

Ainda tinha que arrumar as malas porque partiríamos muito cedo no dia seguinte. Lembro de ter mandado uma mensagem para a Poly e a Michelle avisando que enviaria a matéria só depois porque não tinha condições de escrever nem uma linha.

Tranquilidade no aeroporto de Orlando

Tranquilidade no aeroporto de Orlando

No dia seguinte, já muito mais calma e tranquila, a Yasmin com pulseirinha no braço e uma foto do dia registrada, correu tudo muito bem no aeroporto. Conseguimos um carregador para nos ajudar com a montanha de malas e tudo certo até o embarque – e mais certo ainda até o Brasil. O voo foi ótimo, ela brincou, fez amizade, dormiu, parecia uma “adultazinha”, super segura e feliz. Parecia já estar acostumada a voos de mais de 8 horas.

Ao chegarmos em casa, a felicidade ao reencontrar nossa cachorrinha, a Pantufa, e a maravilhosa sensação de estar no seu lugar.

Bom, esta é minha matéria de encerramento deste diário que adorei compartilhar com vocês. O último dia foi muito difícil, mas o que quero é apenas tirar muito aprendizado disso tudo e guardar na memória que a viagem foi incrível, vou me lembrar para sempre dos olhares, gritinhos e alegrias da minha filha ao ver as Princesas dançando pela primeira vez, ao gritar o nome do Mickey sem parar, ao ver as girafas correndo pela savana, ao participar do espetáculo do Rei Leão, ao correr para abraçar o Sullivan, seu monstro preferido, ao tentar pegar bolinhas de sabão no espetáculo do Nemo, ao abraçar a Branca de Neve, ao tomar o sorvete do Mickey, ao beijar a ponta do nariz de todos os personagens que usam fantasia, ao brincar com sua irmã Ailyn nos shows de música, ao perguntar centenas de vezes “já chegamos?”…rs, ao brincar e pular nas piscinas sob o sol escaldante, ao ficar hipnotizada vendo cada salto de baleia, ao abraçar tão fortemente um brinquedo que não tínhamos coragem de não comprar, ao pedir pipoca fechando os olhos e abrindo a boca, ao correr feliz com uma linda capinha de chuva amarela, ao comer todas as amostras grátis na loja de M&M, ao dormir gostoso no avião, ao se encantar com a patinação no gelo, ao ralar todo o joelho e querer subir num brinquedão em seguida, ao pintar a banheira toda do hotel com giz (lavável! rs), ao se vestir de Cinderela e deixar absolutamente tudo ao redor com purpurina, ao não sentir medo e enfrentar um pula-pula gigante… nossa, são muitos momentos deliciosos que estarão sempre no meu coração…

Definitivamente, levar uma criança pequena em uma viagem é uma das atitudes mais generosas que podemos ter com ela. Pode até ser que ela se esqueça de grande parte do que viu, mas eu nunca vou esquecer a sua felicidade ao experimentar tudo isso e muito mais que não consegui descrever neste pequeno diário.

Obrigada pela companhia e até a próxima!

Dicas de mãe amiga

Para minha sanidade mental, decidi não ficar remoendo o que aconteceu no Walmart, mas tirar algumas lições disso. Pode ser que as dicas que eu tenha dado sobre os passeios tenham ajudado algumas mães a planejar futuras viagens com seus filhos para Orlando e a Disney, mas agora vejo que as dicas de segurança estão entre as minhas contribuições mais valiosas para vocês! Então, vamos lá:

– Crianças adoram brincar de esconder e não têm noção de perigo. Ouvi uma boa orientação depois disso. Falar para a criança que, se ela se perder, que permaneça no mesmo local, pois será mais fácil encontrá-la do que se ela continuar correndo sem parar. Já comecei a orientar a Yasmin nesse sentido.

– Em locais de grande circulação, como supermercados, shoppings e parques, é sempre bom a criança ter alguma identificação, como essas pulseirinhas com o nome completo e o telefone dos pais. Eu comprei algumas já impressas na Printag, paguei R$ 18,00 por 100 pulseiras, mas o pulso dela é tão pequeno que a pulseira dava várias voltas e cobria a impressão… como eu tinha comprado várias lisas também, foi ótimo, porque eu escrevia a mão mesmo e ainda tenho várias guardadas. Comprei de várias cores diferentes e, a cada dia, ela escolhia uma (até os brinquedos ganharam pulseirinha depois que perdemos o primeiro Sullivan no Animal Kingdom…rs).

– Sempre faça uma foto do seu filho no dia, se não conseguir lembrar ou descrever corretamente a roupa, a foto ajudará muito.

– Se algo ocorrer, avise imediatamente algum funcionário, geralmente esses locais de grande circulação já têm experiência em lidar com o assunto.

– Isso tudo vale para os EUA, Brasil ou qualquer lugar do mundo!

– Tente manter a calma. Isso é praticamente impossível, mas ajuda muito.

– E, finalmente, não desista e acredite que terá um final feliz!

 

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