Andador, usar ou não?
22.05.2013 – Quando minha filha estava com uns 6 meses, na fase de engatinhar (ou se arrastar pelo chão, como ela fez por muito tempo), fiz uma pesquisa com minhas amigas-mães para saber se deveria usar ou não o andador e quais seriam seus perigos. Eu ainda não conhecia o grupo Mães Amigas, então foi uma pesquisa restrita a um grupo de 7 mães, mas o suficiente para auxiliar minha decisão. Andador, usar ou não?
Recebi respostas defendendo o uso, dizendo que a criança se desenvolveu rápido e se divertiu muito… e outras totalmente contra, porque os pediatras não gostam porque a criança cai muito, pode se machucar e pular a fase de engatinhar etc.
Porém, uma delas, Dúnia La Luna, trouxe uma visão mais humanista, que era mesmo o que eu estava buscando! Ela me contou sobre uma pesquisa que fez na época em que sua filha Lara iria começar a andar. Vejam, abaixo, o que ela me disse:
“Educadores infantis e psicólogos de linha transpessoal, Waldorf – que visa uma integração natural ao processo de crescimento da criança -, dizem que o andador tira da criança o esforço da conquista e o prazer da realização. Quando a criança está começando a requisitar de seu sistema os primeiros esforços para andar, ela está descobrindo também, inconscientemente, que é capaz de conquistar as coisas. Quando colocamos um andador, tiramos a primeira oportunidade da criança aprender a confiar nela mesma, aprender que, pelo próprio esforço, ela pode conquistar uma série de coisas e que os tombos, as dores, se houver, serão passageiras.
Quando uma criança por si só começa a andar, ela vivencia o prazer e a recompensa de ter confiado em si mesma e de ter arriscado. Também vivencia e aprende a confiar no papel dos pais, que ficam ali para apoiar, ajudar e acolher quando há um tombo!
De modo instintivo, a criança registra tudo isso no sistema dela. E, segundo o que se sabe, os primeiros 7 anos de uma criança determinarão toda a história de vida dela, pois os setênios ao longo da vida apenas de repetem, em oitavas diferentes.
Neurologistas e ortopedistas alternativos também não recomendam, pois o esforço no processo do caminhar leva a criança a conectar uma série de sinapses e o fortalecimento das vértebras.”
Bem, concordei com tudo que ela disse e ela me convenceu a não usar o andador. A Yasmin andou sozinha, sem apoio, quando tinha 1 ano e 2 meses. Depois disso, passei a incentivar todos os esforços dela em realizar sozinha cada vontade, em aprender as coisas que interessam a ela, a valorizar sua curiosidade e seus desejos de descobertas.
Andador: perigoso e desnecessário
De outro lado, mas ainda com a mesma opinião, de não usar o andador, está a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). O texto abaixo foi retirado do site da SBP:
“Desde 2007, é proibido vender, importar, e mesmo fazer propaganda de andador para bebês no Canadá. Apesar de ainda muito popular no Brasil, para bebês de 6 a 15 meses, o andador não é recomendado pelos pediatras. Os pais alegam alguns motivos para colocar o bebê no andador. Dizem que ele dá mais segurança à s crianças (evitando quedas), mais independência (pela maior mobilidade), promove o desenvolvimento (auxiliando no treinamento da marcha), o exercÃcio fÃsico (também pela maior mobilidade), deixam os bebês extremamente faceiros e, sobretudo, mais fáceis de cuidar.
A literatura cientÃfica tem colocado por terra todas estas teses. A ideia de que o andador é seguro é a mais errada delas. A pesquisadora sueca, Ingrid Emanuelson publicou uma análise dos casos de traumatismo craniano moderado em crianças menores de quatro anos, que considerou o andador o produto infantil mais perigoso, seguido por equipamentos de playground. A cada ano, são realizados cerca de dez atendimentos nos serviços de emergência para cada mil crianças com menos de um ano de idade, provocados por acidentes com o andador. Isto corresponde a pelo menos um caso de traumatismo para cada duas a três crianças que utilizam o andador. Em um terço dos casos, as lesões são graves, geralmente fraturas ou traumas cranianos, necessitando hospitalização. Algumas crianças sofrem queimaduras, intoxicações e afogamentos relacionados diretamente com o uso do andador, mas a grande maioria sofre quedas; dos casos mais graves, cerca de 80% são de quedas de escadas.
É verdade que o andador confere independência à criança. Contudo, um dos maiores fatores de risco para traumas em crianças é dar independência demais numa fase em que ela ainda não tem a mÃnima noção de perigo. Colocar um bebê de menos de um ano num verdadeiro veÃculo que pode atingir a velocidade de até 1 m/s equivale a entregar a chave do carro a um menino de dez anos. Crianças até a idade escolar exigem total proteção.
O andador atrasa o desenvolvimento psicomotor da criança, ainda que não muito. Bebês que utilizam andadores levam mais tempo para ficar de pé e caminhar sem apoio. Além disso, engatinham menos e têm escores inferiores nos testes de desenvolvimento.
O exercÃcio fÃsico é muito prejudicado pelo uso do andador, pois, embora ele confira mais mobilidade e velocidade, a criança precisa despender menos energia com ele do que tentando alcançar o que lhe interessa com seus próprios braços e pernas.
Por fim, trata-se de uma grande falácia dizer que a satisfação e o sorriso de um bebê valem qualquer risco. Um bebê de um ano fica radiante com muito menos do que isso: basta sentar na sua frente, fazer caretas para ele e lhe contar histórias ou jogar uma bola.
Dizer que o andador torna a criança mais fácil de cuidar revela preguiça, desinteresse ou falta de disponibilidade do cuidador. Caso o adulto realmente não tenha condições de ficar o tempo todo ao lado do bebê, é mais seguro colocá-lo num cercado com brinquedos do que num andador. Cercá-lo de um ambiente protetor, com dispositivos de segurança, como grades ou redes nas janelas; estas são medidas de proteção passiva, muito mais efetiva. O andador definitivamente não se enquadra neste esquema.
Existe um movimento muito intenso na Europa e nos Estados Unidos visando a implantar uma lei semelhante à canadense, uma vez que todas as estratégias educativas têm falhado na prevenção dos traumatismos por andadores.
Enquanto este progresso não chega ao Brasil, continuamos contando com o bom senso dos pais, no sentido de não expor os bebês a um produto perigoso e absolutamente desnecessário.”
Agradecimento especial a Dúnia La Luna, proprietária da Casa Hetaira – Núcleo de Vivências na Natureza.
Se você tem alguma experiência positiva ou negativa com o uso de andador, conte pra gente, é só deixar um comentário abaixo!
O Fantástico solicitou ao Inmetro um teste nos andadores infantis, confira aqui o resultado.