Tomei injeções diárias na barriga na gravidez

23.05.2014

selo materia mae amiga

 

Ariana Okabatake

Mãe do Diego (3 anos e 10 meses) e da Carolina (10 meses)

♥ “Eu tomaria quantas injeções diárias na barriga fossem necessárias para ter o privilégio de ser mãe de duas criaturas tão iluminadas e belas”

 

Ser mãe sempre foi um sonho e um objetivo de vida pra mim. E nunca imaginei que pudessem existir percalços no meio do caminho…

Em 2009, decidimos aumentar a nossa família. Suspendi o anticoncepcional, segui todas as orientações da ginecologista (GO) e começamos as tentativas. O positivo veio logo: 1 mês depois!

Na época, eu trabalhava em São Paulo e viajava todos os dias. E assim a vida continuou, entre idas e vindas, do trabalho pra casa, de casa pro pré-natal e assim por diante. Fiz todo o acompanhamento, todos os ultrassons, todos os exames do pré-natal e minha gestação era simplesmente PERFEITA! Tanto que viajei até a 35ª semana, quando a santa da minha GO me colocou contra a parede e disse: “está na hora de você parar de viajar. Se você insistir, eu a oriento a procurar um GO também em SP”.

Ariana e o marido Rafael

Ariana e o marido Rafael

Quando entrei na 36ª semana, a médica me recomendou um ultrassom de rotina, para acompanhar o desenvolvimento do bebê, pois o objetivo era um parto normal. Mais uma vez, tudo normal no exame, exceto pela placenta, que estava no Grau III de maturidade. Até aí ok, porque muitas mulheres apresentam Grau III e a gestação segue seu curso normal até o final. A essa altura, eu já tinha 2 cm de dilatação, mas ainda não estava em trabalho de parto. Recordo-me como se fosse hoje das palavras da Dra.: “quando sair o tampão mucoso, pode ser que sangre um pouco e é normal. Só me liga e avisa, tá!?”.

Na mesma noite, fui tentar dormir como todos os outros dias e acordei de madrugada para ir ao banheiro. Foi então que vi o tal do sangue no vaso e achei normal. Avisei ao meu marido e disse que na manhã seguinte ligaria para a minha médica. Coloquei um absorvente e me deitei. Foi quando senti um corrimento muito forte. Voltei ao banheiro e o sangue escorria pelas minhas pernas! Liguei imediatamente pra minha médica que me orientou a ir voando para o Centro Médico.

Entre a ligação e o nascimento do meu filho foram exatos 50 minutos!

Minha placenta havia descolado e o parto foi de emergência. Graças ao bom Deus, meu filho nasceu perfeito e saudável.

Desde então, meus dias passaram a ser de agradecimento à Deus pela vida do meu filho e a minha, porque somente depois ficamos sabendo da gravidade do ocorrido e que o DPPNI (Descolamento Prematuro de Placenta Normalmente Inserida) é uma das grandes causas de morte materna e fetal. E eu, assim como meu pequeno, fomos abençoados.

Num primeiro momento, decidimos que ficaríamos somente com um filho. Mas o tempo foi passando, meu filho foi crescendo e a vontade de ter outro filho começou a aparecer. Mas, como encarar outra gestação sem ao menos saber as causas do ocorrido? E o medo de morrer e deixar minha família? E o medo de perder um filho? Eu tinha medo, muito medo. E meu marido compartilhava o mesmo medo que eu.

Antes de batermos o martelo da decisão de ter o segundinho ou não, fui procurar as causas do meu descolamento. E minha médica foi muito mãezona e nos ajudou muito nesse processo. Foi então que descobri a tal da trombofilia. Eu tenho uma mutação genética no gene da protrombina (20210G) e também tenho antitrombina III baixa. Ambos fazem com que o tempo de coagulação sanguínea seja menor e, no caso de uma gravidez – cujo risco já é aumentado para trombofilia – aumenta ainda mais, por conta do volume sanguíneo que é maior na gestante.

E foi então que descobri que na minha gestação formaram-se trombos na placenta e, por esse motivo, ela envelheceu precocemente e acabou descolando.

E sorte a minha que ela descolou, porque eu poderia ter tido uma insuficiência placentária e o óbito fetal nesses casos é inevitável…

O tratamento para uma segunda gestação seria então o uso de anticoagulante injetável (enoxaparina sódica), na dosagem profilática. Ainda assim o risco existiria, porém muito menor. Decidimos então encarar. E lá fomos nós de novo: ácido fólico, polivitaminicos, exames e mais exames de sangue, AAS infantil, até o positivo.

Minha segunda gestação foi perfeita. Eu usava 1 injeção diária de Clexane, aplicada diretamente na barriga. E assim transcorreu minha gravidez: entre enjoos, injeções, muitos exames de sangue e muitos ultrassons para acompanhar a placenta.

A única diferença entre as gestações foi que, na primeira, eu nem imaginava passar por algo parecido com o que passei, então curti muito. Muito mesmo. Tudo. Na segunda gestação, que eu estava bem informada e fazendo o tratamento e acompanhamento adequados, eu me fechei. Foram praticamente 9 meses reclusa, contando os dias e os minutos pra ver o rostinho da minha filha. Confesso que não curti muito a gravidez em si.

Minha ansiedade era tanta que eu só queria que o tempo passasse o mais rápido possível.

Tomei injeções diárias na barriga na gravidezMas, apressadinha como o irmão, minha pequena decidiu nascer também na 36ª semana. Dessa vez, entrei em trabalho de parto, mas não pude e nem quis arriscar fazer parto normal por conta do uso do anticoagulante, que precisava de uma pausa mínima de 12 horas pré-parto, por causa do risco de hemorragias.

E assim foram as minhas aventuras gravidísticas.

Às vezes, a vida nos prega algumas peças. A minha foi essa! Eu me senti culpada um bom tempo, confesso. Por ter a tal da mutação, sequer saber e indiretamente ter colocado a vida do meu filho em risco. Mas hoje, olho para eles e vejo como sou uma pessoa abençoada. Eles são a minha vida!

E por eles eu faria o mesmo tratamento, faria as mesmas cesáreas, tomaria quantas injeções fossem necessárias para ter o privilégio de ser mãe de duas criaturas tão iluminadas e belas!

A lição que aprendi disso tudo foi que certas coisas na vida simplesmente não têm tanta importância. Para a chegada do meu primeiro filho, eu quis tudo perfeito: quarto, enxoval, book, roupas, ultrassons 4D e afins. E nada disso teria importância se eu não o tivesse em meus braços. Com a minha filha, fiz tudo diferente: fizemos tudo sem a neura de ter tudo perfeito, porque o medo e a ansiedade deram lugar ao foco na pequena em meu ventre. E assim passei as 36 semanas – como já disse – reclusa, esperando ansiosamente pelo segundo maior presente que eu ganharia na vida!

Minhas queridas Mães Amigas, foi um prazer compartilhar minha história com vocês, porque sei que ela pode ajudar outras mães que possam ter o mesmo problema que eu!

Meu conselho: nunca desistam dos seus sonhos!

Um beijo enorme!

Tomei injeções diárias na barriga na gravidez

 

 

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