Quem deve fazer mamografia e porquê

Publicada em 14.10.2013 – Com a chegada do Outubro Rosa, muito tem se falado sobre câncer de mama e a necessidade ou não de se fazer mamografia.

O câncer de mama representa a principal causa de morte por câncer nas mulheres brasileiras, apresentando aumento da incidência e mortalidade desde 1980. O aumento da incidência de câncer de mama no Brasil nas últimas décadas pode ser explicado por alterações sócio-demográficas, que incluem a mudança das mulheres da zona rural para as cidades e a inclusão no mercado de trabalho, com consequente postergação da primeira gestação a termo, redução do número de filhos e do período de amamentação, além da maior prevalência da obesidade. A facilidade de acesso aos serviços de saúde também pode ser responsabilizada pelo aumento dos diagnósticos, principalmente pela detecção de lesões não palpáveis.

A mamografia é o principal método de rastreamento do câncer de mama, o que significa dizer: é a principal maneira de se descobrir um câncer na sua fase inicial, quando o tratamento e as chances de cura são maiores.

A mamografia é um exame radiológico (RX). As mamas têm uma parte de tecido fibro-glandular e outra de tecido gorduroso (apesar do nome, é o que dá a forma bonita às mamas). No tecido fibro-glandular é que estão as glândulas e onde se desenvolvem os cânceres. Então, é essa parte das mamas que interessa mais no exame de mamografia, no que diz respeito a rastrear o câncer. Esse tecido é “denso” ao RX, o que significa dizer que aparece “branco” no RX, sendo maior a dificuldade em detectar lesões, diminuindo muito a acuidade do exame. À medida que o tecido fibro-glandular vai sendo substituído pelo tecido gorduroso, diminui-se a densidade, melhorando o contraste e, consequentemente, também a interpretação dos achados durante a leitura do exame (em geral, esse fato se dá ao redor dos 35 anos. Observem que o aumento da idade também trás vantagens!!). Por isso, os médicos geralmente não pedem mamografia antes dos 35 anos de idade!

Antes dos 35 anos de idade, quando a investigação das mamas se faz necessária, o ideal é o exame de ultrassonografia mamária.

Após a menopausa, com a diminuição dos hormônios sexuais, ocorre uma involução progressiva dos componentes ducto-alveolares (tecido fibroglandular). Esses diminuem em tamanho e número; tornam-se atróficos e são substituídos por tecido gorduroso. É nesse período, quando a elevada proporção de tecido gorduroso confere baixa densidade na glândula, que a mamografia torna-se imbatível como exame de rastreamento ou para o diagnóstico das lesões mamárias.

As sociedades médicas de ginecologia e mastologia baseiam-se na prevalência (frequência de casos) do câncer de mama em cada faixa etária, na sua população. Isso é importante, porque as populações não são iguais e têm “riscos” diferentes. Assim, o programa de rastreamento de um país ou região pode não ser igual a outro, e por isso, existem vários “protocolos de rastreamento” vigentes.

À esquerda, mamografia normal. À direita, mamografia indicando carcinoma.

À esquerda, mamografia normal. À direita, mamografia indicando carcinoma.

A evidência da redução da mortalidade como resultado da triagem para câncer de mama em mulheres com 50 a 69 anos resultou na concordância quase universal acerca do valor da triagem nessas mulheres. Assim, em quase todos os países, a mamografia nessa faixa etária é UNANIMIDADE.

As diferenças aparecem nas faixas etárias entre 40 e 49 anos.

Nos Estados Unidos, o National Câncer Institute (NCI) modificou sua recomendação genérica de realizar a triagem de mulheres em sua 5a. década a favor das discussões caso a caso de triagem das mulheres e seus médicos. Assim, o NCI uniu-se ao American College of Physicians (ACP), a American Academyof Family Practice (AAFP) e a United States Preventive Services Task Force (USPSTF) nas seguintes recomendações:

– mulheres acima de 50 anos devem ser submetidas a uma triagem com mamografia e exame clínico entre 1 (não menos) e 2 anos (não mais);

– mulheres com 40 a 49 anos devem discutir a conveniência da triagem com seus médicos pessoais.

Já a American Cancer Society (ACS) tem recomendado sistematicamente o início da triagem aos 40 anos, e não especifica um limite de idade superior.

No Brasil, baseando-se nas evidências atuais a triagem mamográfica deverá ser recomendada em mulheres:

– a partir de 40 anos – anualmente

– entre 50 e 69 anos – a cada um ou dois anos (anual naquelas sob terapia hormonal e alto risco)

– após os 70 anos – de acordo com a expectativa de vida

Os planos de saúde seguem essas orientações para autorizarem os exames de maneira sistemática. Para os casos que a avaliação médica identificar risco aumentado ou que o médico julgar necessária a investigação “fugindo” dessas recomendações gerais, o médico deve fazer um relatório justificando a indicação e a autorização é requerida junto a auditoria do plano de saúde.

Situações de risco para Câncer de Mama

– 1 parente de 1º grau* que teve câncer de mama com menos de 30 anos

– 2 parentes de 1º grau com câncer de mama, sendo um diagnosticado antes dos 50 anos

– 2 parentes de 1º grau com câncer de mama, ambos diagnosticados antes dos 60 anos

– 1 parente de 1º grau e 1 parente de 2º grau** com câncer de mama, sendo que a soma das idades de diagnóstico dos dois é menor que 110

– 2 parentes de primeiro grau com câncer de mama, um deles com câncer bilateral

– 1 parente de 1º grau e um parente de 2º grau com câncer de mama, um deles bilateral

– 2 parentes de 2º grau, do mesmo lado genético (ou materno ou paterno), sendo que a soma das idades de diagnóstico dos dois é menor que 80

– 1 parente de 1º grau com câncer de mama e 1 parente de 1º grau com câncer de ovário, sendo que neste paciente o câncer de ovário foi diagnosticado em idade menor que 70 anos

– 2 parentes de 1º grau com câncer de ovário

– 1 parente de 1º grau, homem, com câncer de mama

 

* parente de 1º grau: pais, filhos, irmãos

** parente de 2º grau: tios, sobrinhos, primos, avós, netos e meio-irmãos

 

Selo Profissional-4

Dra. Isabela Nelly

Isabela Nelly

– Médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia com Mestrado e Doutorado em Tocoginecologia pela UNICAMP.

– Médica Assistente (auxiliar de ensino) da Faculdade de Ciências Médicas – UNICAMP.

– Atua em Unidades Básicas de Saúde e no Ambulatório de Gestação de Alto Risco da Prefeitura Municipal de Campinas há 13 anos.

– Pesquisadora do CNPq nas linhas de pesquisa Saúde da Mulher, Saúde Materno Fetal.

– É Mãe Amiga e mãe do Caio, de 2 anos e 6 meses

– Contatos: imachado@fcm.unicamp.br ou contato@allovita.com.br

 

#outubrorosa

#outubrorosacampinas

 

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