Qual é o limite do uso da palavra NÃO
27.06.2013 – Qual é o limite do uso da palavra NÃO? “Digo mil vezes a mesma coisa, quantas vezes tenho que repetir que não pode?”. “Às vezes me sinto mal de dizer tanto NÃO para meu filho”
É muito comum mães e pais se sentirem cansados e perdidos na difícil tarefa de impor limites aos filhos sem deixar de favorecer sua autonomia. Mas, é justamente para que as crianças consigam crescer autônomas e seguras que elas precisam ter clareza do que podem e do que NÃO podem.
Veja, quando seu filho era um bebezinho, ele era completamente dependente de você. Aos poucos, ele aprende a engatinhar, depois a caminhar, a alcançar as coisas que deseja, a desenvolver cada vez mais a linguagem, a explorar o mundo… Ele começa a pensar: “Sou forte! Consigo correr! Consigo subir escada! Eu consigo fazer muitas coisas! Não sou mais um bebezinho, sou uma criança grande!”. Mas claro, diante de tantas novas possibilidades, surgem também situações que colocam a criança em perigo e a presença atenta de um adulto é fundamental.
Todos os “NÃOs” são necessários??
Mas, os conflituosos “NÃOs” são necessários não apenas para proteger a criança fisicamente, mas também para ajudá-la a se inserir em nossa cultura, a ter comportamentos que possibilitem uma boa convivência e que são fundamentais na constituição da personalidade.
Na medida em que cresce, a criança vai ter que aprender a tolerar a frustração de a realidade não coincidir com nosso desejo, vai descobrir que nem tudo é possível, que às vezes é necessário esperar para obter o que se deseja, que a gente não pode ter tudo o que quer, na hora que quer e do jeito que quer. E é tarefa dos pais apresentar o mundo para a criança, mostrar os limites, proteger o filho das situações que possam representar um risco, protegê-lo também de seus próprios impulsos que ele ainda não sabe controlar, para que ele não se machuque e não machuque os outros. Mas, principalmente para que ele não se torne refém de seus impulsos e desejos sem saber como dominá-los e ordená-los. Tão importante quanto conhecer nossos desejos é poder avaliar se eles são possíveis e escolher quando e como vamos realizá-los. Até porque, alguns desejos devem ficar no campo da fantasia, não é?
Sabemos que a tarefa de apresentar a realidade para o filho é, muitas vezes, desgastante. A criança se irrita e sofre diante das impossibilidades e, muitas vezes, os pais já cansados ou com outras preocupações em mente, acabam cedendo ou enrijecendo e deixando fazer coisas que inicialmente não haviam permitido e vice-versa.
Esta é a grande questão. Para suportar e compreender a maneira como nosso mundo se organiza e poder se organizar também, a criança precisa que os pais sejam coerentes e consistentes. Eles precisam avaliar com cuidado o que acham que pode ser permitido ou proibido e, uma vez tomada a decisão, ela deve ser mantida, não no sentido de impor uma autoridade rígida e arbitrária, mas no sentido de mostrar ao filho que eles acreditam no que estão dizendo e pensam que isso é o melhor para ele.
O ideal é que as pessoas que cuidam da criança conheçam e concordem com os critérios para estabelecer limites. As falas ambíguas, contraditórias ou opostas confundem a criança e fazem com que ela sinta maior necessidade de testar os limites para checar o quanto pode ou não contar com eles. Claro que não é necessário que os avós, os tios e todas as pessoas que convivem com a criança concordem ou pensem da mesma forma. Refiro-me ao núcleo principal da criança, aos principais cuidadores, àqueles que são a referência para ela. Se ela contar com um núcleo coeso e seguro, as atitudes dos outros terão pouca ou nenhuma relevância.
Sabemos que não é possível ser pais perfeitos e que não existem receitas para educar um filho.
Crescer é um processo que os pais vão acompanhar ao longo da vida com todos seus movimentos de evolução e regressão. Nessa caminhada, eles vão tentar orientar os filhos, às vezes errando, outras acertando. O principal é que eles tenham claro o que pode ser negociado e o que a criança deve aceitar de uma determinada maneira porque esses são os limites que a realidade nos impõe. É importante que eles saibam por que estão dizendo NÃO e aproveitem esse momento como uma oportunidade para se aproximar afetivamente do filho. Pois, nesses termos, sem dúvida, dizer NÃO será um ato de amor. Até nos momentos mais difíceis os pais devem dizer e demonstrar ao filho que eles o amam.
Autora: Ana Maria Rocca Rivarola