Por que amamentar em público é tabu em pleno 2019?
12.11.2019 – Desde março de 2019 o Senado aprovou o projeto de lei que busca garantir às mulheres o direito de amamentar em público, ou seja, em locais de uso coletivo sem serem coagidas. Por que então, muitas mães ainda são recriminadas por amamentar o seu filho em locais com outras pessoas?
No mundo todo, mulheres são constrangidas por dar o peito aos seus filhos, seja em restaurantes, praças, supermercados, entre outros.
Uma pesquisa recente com mil mulheres e homens, conduzida pela marca de sutiã de amamentação e de bombear leite Milx, descobriu que uma em cada três pessoas pesquisadas foram constrangidas (ou tiveram uma parceira que tenha sido constrangida) por amamentar em público.
Um estudo de 2014 conduzido pela Universidade de Atenas, por sua vez, descobriu que, enquanto amamentar em público é socialmente aceito na Noruega, Suécia e Finlândia, é muito mais raro na França e no País de Gales “onde as mulheres ainda têm sentimentos mistos devido a possível constrangimento ou julgamento a que possam ser submetidas”.
Aqui no Brasil as coisas não são diferentes. Muitas mulheres são recriminadas, muitas vezes por pessoas da própria família, por amamentar seu filho em público. O relato sobre esse tema é da mãe amiga Danille Batocchio, mãe da Pietra de 4 meses.
(Ama)mentar. Um ato de amor seja de que maneira for.
Durante a gestação se fala muito em parto, médico, equipe, hospital ou parto domiciliar, mas pouco se conversa sobre o depois: quando o bebê já estará em seus braços. Hoje vivendo tudo isso indago por que não conversamos mais sobre a relação mamãe e bebê?
Amamentar é um ato consciente que muitas vezes supera inúmeros obstáculos. Peito que dói, inúmeras pegadas e talvez seu bebê fazendo a pegada errada, língua presa, abcesso, peito que empedra, apojadura, colostro, mastite, fissura. Amamentar dói! Não tem como esconder essa realidade. Dói. Não é instintivo saber todas as informações e precisamos sim de muito acolhimento e ajuda para superar os inúmeros obstáculos. É tanto termo e tantas possibilidades que quem obteve sucesso sabe a vitória que foi essa conquista. E você sai dessa batalha no dia a dia vencendo as estatísticas e de repente descobre que o mundo não aceita um peito para fora.
Somos mamíferos e por isso o bebê tem sua alimentação exclusivamente por leite até os 6 meses de idade. Então em que momento foi que passou a ser errado alimentar seu filho com os “equipamentos que viemos de fábrica”? Por que não encaramos com ternura e sem estranheza uma mãe amamentando como o fazemos com uma chupeta ou uma mamadeira? Por que insistimos em constranger uma mãe que só tenta nutrir?
Hoje amamentando vejo como é tabu essa temática e como perdemos referência e informação ao longo dos anos. Inserimos no dia a dia insegurança na mãe que só tenta fazer seu melhor. Quantas vezes não ouvi que meu leite era fraco e por isso minha filha não iria crescer e quantas vezes vi mães estranharem uma mãe que amamenta por mamadeira. Por que julgamos uma estrutura da qual não fazemos parte? Em que ponto empatia e acolhimento nos separou do nosso instinto primitivo que é amar?
Mas a temática de hoje é amamentar um público. E só quem vivencia isso entende os olhares que repreendem, olhares tortos e incomodo das pessoas em ver ali um peito que é a fonte de alimento para uma criança que há pouco nasceu. “Cobre essa criança quando dá peito” eles dizem. Mas nunca vi algum adulto se cobrir na hora de comer pois aquilo era incomodo ou constrangedor. Então por que geramos essa vergonha na cria que tanto escuta que deve se cobrir para se alimentar quanto um constrangimento na mãe que só está alimentando seu filho?
Não devemos dar espaço e voz às críticas em nosso amamentar. Devíamos nos acolher e entender que ali está sendo construído uma relação de afeto, um olho no olho, um carinho no bebê enquanto ele acaricia a mãe, um vínculo tão forte que nos faz superar todas as outras dificuldades que temos durante o dia. Seja esse amamentar pelo peito, translactação ou pela mamadeira. Vamos abraçar essa mãe que supera no dia a dia o cansaço, noites mal dormidas, falta de tempo para chamar de seu, vamos ser mais leves com essa mãe que só quer um abraço e alguém para lavar a louça.
Na hora em que o bebê nasce também nasce uma mãe! Eu sempre disse que foi nesse momento que perdi o senso de vergonha. Pela minha filha ando daqui até Timbuktu com o peito de fora e o vestido enfiado na calcinha pois não tinha quem a segurasse para eu fazer xixi e não dei aquela checada no espelho. Mas de dentro da minha certeza em forma de fortaleza não significa que sou imune aos olhares repreensores. Por isso o jargão os incomodados que se retirem passa muito na minha cabeça. Se te é incomodo um peito aparecendo, desculpa te informar, mas um peito desse te alimentou no começo da vida. E muitos peitos ainda passarão descobertos e livres para nutrir muitas crianças que estão por vir!
Por isso mães, não deixe que o mundo externo interfira na sua relação interna com seus pequenos. Um choro de fome se combate com um peito sacado ou uma mamadeira preparada! Por tanto se deLEITE desse momento! O momento é todo seu e não tem hater que consiga tirar essa conquista do maternar! Se abrace, se trate com mais carinho e se permita ser a mãe que seu instinto te diz a ser.
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