UNIVERSO POLYANA: Eu tive mastite na amamentação
09.09.2013 – Amamentei meu filho durante 15 meses. Na prática, pelo menos no começo, não foi tão fácil quanto parecia ser. Eu tive muito leite, minha mama empedrou e tive uma mastite feia. Para vencer essa primeira fase como mãe envolveu muita força de vontade, persistência e paciência.
Miguel nasceu de parto normal, e assim que veio para o meu peito, chorando sem parar, o abocanhou como se aquilo fosse a sua salvação e logo em seguida se acalmou. Aquele segundo contato de mãe e filho conectados fora do ventre foi simplesmente mágico. Você carrega um bebê durante meses, cria um vínculo inexplicável e devagarzinho, dia após dia, meses após meses aprende a amá-lo. Pode parecer estranho, mas o “tal amor incondicional” não é de imediato. É um amor que será conquistado! Pelo menos, assim foi para mim.
O meu leite desceu no quarto dia. Quando acordei e me olhei no espelho fiquei de boca aberta. O meu peito tinha triplicado de tamanho! Eu parecia ter duas bolas de basquete no lugar do meu peito, sem exageros. Rsrs
Miguel mamava exatos 20 minutos, era impressionante. Parecia um despertador. E assim era a nossa rotina: de 3 em 3 horas era a hora do “mamazinho”.
As primeiras semanas em casa foram as mais difíceis. Mãe e filho estão se conhecendo ainda.
De repente uma parte do meu corpo não me pertencia mais. Ela passou a ser do meu filho. Meu bico começou a ser sugado como nunca foi.
“Ele precisa calejar”
“Força”
“Tenha paciência”
“É assim mesmo, dói no começo”
…Essas eram as frases que eu mais escutava. Talvez a minha feição demonstrasse o quanto aquelas primeiras abocanhadas do Miguel no meu peito doíam. Latejavam. E por muitas vezes chorei de dor. Mas sempre tinha uma palavra amiga para me incentivar a aguentar essa primeira fase. E logo após o primeiro minuto, a dor “congelava”, e eu não sentia mais nada nos 19 minutos restantes.
Enquanto alguém, gentilmente dizia “deixa que eu o faço ele arrotar”, eu cuidava do meu bico à minha maneira, e a maneira que aprendemos com aqueles que confiamos. Passava pomada, passava leite materno e deixava no sol (e era hilária a cena da tentativa de tomar sol no bico do seio na varando do meu apto…rsrs!).
Um belo dia a minha mama esquerda acordou dolorida com um leve vermelhidão. Eu não tinha febre. A minha irmã passou alguns meses antes por uma situação semelhante. Ela tinha tido uma mastite, das graves, e só uma punção no bico resolveu.
“Poly corre para a maternidade. Você deve estar com começo de mastite”
E no Banco de Leite a enfermeira confirmou. Aconselhou-me a ir ao meu obstetra para ele me avaliar e receitar um possível antibiótico. Na mesma hora liguei no consultório, ele me encaixou e ao me examinar me disse que não estava “muito grave” e que meu corpo provavelmente expeliria. Minha mãe aflita lembrou-se do episódio da minha irmã: a mesma cena, no mesmo profissional.
“Você está amamentando e não vejo necessidade em você tomar um antibiótico nesse momento. Maaaaaaas, se você quiser, eu te receito”.
Primeira grande dúvida de uma mãe de primeira viagem. De um lado uma irmã e uma mãe aflita. Do outro o medo de tomar um antibiótico. Não tomei!
No dia seguinte minha mama continuava a doer. Eu tinha muito leite. Tanto mas tanto que Miguel chegava a engasgar nos primeiros goles. Diariamente, a cada mamada, eu fui aconselhada a tirar o excesso de leite, para que ele pudesse abocanhar melhor e assim mamar mais tranquilamente.
Por um acaso encontrei uma vizinha no elevador. Ela era residente de medicina e como me viu desesperada com tal situação tentou me ajudar. No que olhou a minha mama fez aquela expressão…
“È Mastite!!!!”…
Ofereceu-se então para me levar na Unicamp, local onde trabalhava, para que “sua chefa” analisasse. Nesse momento eu estava aos prantos. Medo da mastite, medo de deixar o Miguel sozinho pela primeira vez, medo dele precisar de mim enquanto eu estivesse fora! Só quem é mãe entende.
Fui aos prantos desabafando tudo o que tinha acontecido até então para uma vizinha que mal conhecia. Chegando lá recebi o diagnóstico da “chefa”:
“Minha querida, você terá que ser internada. Sua mastite está infeccionada e muito avançada, teremos que fazer punção e acompanhar”
bla bla bla… Não lembro de mais nada a não ser de cair no choro incontrolavelmente. Liguei para a minha mãe e mal conseguia explicar ao certo o que estava acontecendo! Achei que aquela médica estava louca. Falei para minha vizinha que queria voltar para casa e qualquer coisa retornaria depois. Cheguei em casa junto com meu marido, que estava voltando da faculdade. Resolvemos ir para a maternidade. Eu, ele e Miguel com apenas alguns dias de vida. Ao me deitar na maca, para ser analisada pelo medico plantonista, a notícia:
– “Mãe, a sua mastite está infeccionada”!
– “E o que isso quer dizer?” (com lágrimas que não paravam de escorrer)
– “Significa que ou você faz uma punção ou deixa “estourar” sozinho”.
– “E o que é uma punção?! Como faz isso?!” O que significa estourar sozinho?!
– “É um procedimento muito simples. Vamos colocar uma agulhazinha e extrair todo o pus” (nessas horas tudo é no diminutivo para não parecer muito complicado)
– “Mas você me dará uma anestesia? Dói?”
-“Nesse local a anestesia não pega. Então iremos apenas inserir uma agulhazinha, retirar o pus e pronto. É rápido”
….. Eu não parava de chorar. Marido ao lado com Miguel no colo, eu deitada em uma maca, com os peitos para fora, com um médico que nunca tinha visto na vida e que pacientemente aguardava uma decisão minha.
– “Mas…o que você acha melhor?” disse sem querer ouvir a resposta.
-“Ah, já que estamos aqui, vamos fazer.”
…..10 segundos que pareceram uma eternidade!
-“Ta bom. Pode fazer”.
Para quem não sabe eu tenho pavor de agulha. Eu fechei os olhos e rezei. Por duas vezes ele teve que injetar a agulha e retirar todo o pus que tinha se alojado abaixo da minha mama.
Eu produzia tanto leite que aquele excesso, não conseguiu sair. Ele empedrou, não diluiu e infeccionou, formando o tal pus. Pelo que entendi, a mastite se dá porque a produção de leite é maior que a demanda e ao acontecer isso o canal mamário enche e torce obstruindo a passagem do leite. Nesse local o leite fica acumulado e empedra… se você não massagear e tentar “destorcer” o canal, ele fica ali…parado… e aí inflama!
Eu estava profundamente abalada. Minha irmã tinha passado exatamente pelo mesmo problema e ela havia me alertado que o antibiótico era a melhor escolha.
Resolvi procurar um especialista. O mastologista foi muito atencioso, ouviu minha história e me examinou. Fiquei um pouco mais tranquila quando ele disse que o procedimento feito na maternidade era o mais indicado.
No dia seguinte, ao refazer o curativo sofri! Depois percebi um rombo do meu peito. (Se você tiver muita curiosidade e quiser ver a foto eu posso mostrar. Me envie um inbox. Achei que colocar aqui seria demais!)
A “grosso modo”, ele me explicou que as nossas mamas são formadas por “diversas casinhas” com muitos gânglios. O processo de cicatrização de uma mastite é de dentro para fora, e com isso, toda a casinha iria se abrir para somente depois começar a se fechar.
Agora imaginem eu, mãe de primeira viagem, cansada, que amamentava de 3 em 3horas, com leite que pingava sem parar a ponto de me sentir a verdadeira vaca leiteira, na quarentena (porque sangrei exatos 40 dias) e agora com um rombo no peito!!!???
Eu entrava no banho e chorava!
Tudo doía, eu me sentia feia, mal amada, cansada, triste. Eu voltei a ter o meu peso de adolescente (única parte boa hehehe). Eu com certeza estava em uma tristeza pós parto.
Todas as vezes que eu tinha que fazer o curativo, era um sofrimento para mim. A gaze grudava no meu machucado, e para ela se soltar era um processo de “reza braba”. Descobri mais tarde, que a forma de cicatrização deveria ser feita com apenas um curativo no dia, pois o “abafadinho” ajudava na cicatrização. Eu também deveria embebedar a gaze em um óleo, e com isso ela impediria a gaze de grudar no machucado. Foi a minha salvação! Tudo pareceu ficar mais simples!
E eu, na paralela, continuava a amamentar, a acordar nas madrugadas, a (tentar) ser esposa, mas mulher, eu nem lembrava o que era. Com muita paciência, em questão de alguns dias, eu comecei a melhorar. O machucado foi cicatrizando, as abocanhadas não doíam mais, a quarentena foi acabando e o vínculo com meu filho foi aumentando. Devagarzinho tudo foi se ajeitando.
Minha mastite foi curada, e eu entrava em pânico quando ouvia alguém dizer que estava com febre, vermelhidão na mama ou com dor. Minha vontade era de ligar, contar a minha história e pedir para ela procurar um profissional. Talvez nesse momento tenha nascido o Grupo Mães Amigas. Eu precisava falar, compartilhar, ajudar, desabafar.
Apesar de todo esse sofrimento um dos maiores prazeres da minha vida materna foi amamentar. Fazia-me bem, eu me sentia feliz!
Durante este período eu ainda estive mais quatro vezes no banco de leite (para aprender a amamentar, tirar o excesso do leite e desempedrar a mama) e doei aproximadamente 6 litros de leite materno, devagarzinho, tirando “excesso por excesso”. (Recomendo muito! O banco de leite vem retirar na sua casa.)
Aos 15 meses Miguel naturalmente parou de mamar. Ele não tinha interesse pelo meu peito.
A minha intenção em dar esse depoimento é ajudar mães que passam por dificuldades parecidas como eu passei. Cada mãe tem o seu momento e as suas dificuldades. Cada mãe sabe o limite que tem e com certeza sabe que as escolhas que está fazendo são as melhores para seus entes mais queridos. Sigam seus corações. Confiem nas suas escolhas.
“E acreditem, tudo passa! Tudo é uma fase. Essa é só a primeira de muitas. Boa Sorte!”