Evento incentiva casa segura para criança
28.10.2013 – No dia 17 de outubro, eu e a Michelle Occiuzzi estivemos no evento Criança Segura Ariel, um bate papo promovido pela marca Ariel, sobre como preparar uma casa para a chegada de uma criança – e também as adaptações no ambiente conforme ela vai crescendo.
O evento teve a participação do Dr. Anthony Wong, pediatra e toxicologista e membro de Centro de Assistência Toxicológica do Instituto da Criança do Hospital das ClÃnicas, e da Dra. Simone de Campos Vieira Abib, médica cirurgiã pediátrica e presidente da ONG Criança Segura.
Ao longo do encontro, os dois médicos nos forneceram muitas informações, dicas preciosas para mamães, papais, avós, babás, empregadas e qualquer pessoa que cuide de uma criança.
Infelizmente, não dá para transcrever na Ãntegra o evento, mas separei algumas dicas para vocês:
Primeira lição da dra. Simone: “Temos que mudar o conceito de que comigo não acontece, que acidente é algo imponderável, que ocorreu porque Deus quis”. Acidentes podem sim, acontecer com qualquer um de nós e cabe ao adulto promover um ambiente seguro para que a criança explore sua curiosidade. “Algumas coisas não são negociáveis com a criança , quer um exemplo? Sentar na cadeirinha no carro. A criança deve ir sempre na cadeirinha e ponto. Não cabe a ela decidir se vai ou não”, afirma a médica.
Outra coisa inegociável: colocar o dedo na tomada. É preciso ensinar a criança que não pode. As consequências de um choque elétrico são gravÃssimas: morre ou perde um membro ou fica com sequela neurológica. Na dúvida, coloque um protetor de tomada, é um acessório tão barato, não vale o risco…
“Limite pra criança é igual a amor, ela precisa de limite”, dra. Simone de Campos Vieira Abib
Segundo a médica, cerca de 6 mil crianças morrem anualmente no Brasil por acidentes. A primeira causa de morte por acidente é “acidente de transporte” (atropelamento, acidentes de carro ou bicicleta), e a segunda é por afogamento (a pediatra Silvia Castilho escreveu uma matéria sobre como prevenir afogamentos semana passada, veja aqui).
As principais causas de acidentes sem morte mas com internação são quedas, intoxicação e queimaduras.
Quedas
Falando sobre quedas, é importante observar alguns aspectos para avaliar a gravidade da situação:
– Altura: se estava andando e caiu no chão, ou seja, à sua própria altura, provavelmente não terá nada grave, andar e cair é normal. Porém, se caiu de uma altura equivalente a 3x a própria altura, o impacto é muito maior.
– A criança perdeu a consciência imediatamente?
– A criança está falando ou não?
– A criança está pálida ou não?
– A criança respira ou não?
– Olhe dentro dos olhos, está fixando o olhar? A pupila está normal?
É importante que os responsáveis observem esses aspectos e chamem o resgate imediatamente em caso de gravidade.
Importante: ao chamar o resgate, continue observando as reações da criança, informe a quantidade de pessoas feridas, forneça o endereço com um ponto de referência. São pequenas atitudes que podem agilizar o atendimento.
Segundo o dr. Anthony Wong, acidente é 100% evitável! Um bom exercÃcio para os pais é agachar no chão até a altura dos olhos da criança e olhar para cima. Verá um mundo completamente diferente e pode refletir sobre os perigos dentro de casa.
“A criança aprende pelo exemplo e pela repetição, não adianta gritar ou dar sermão”, Dr. Anthony Wong
Por outro lado, não adianta só proteger sua casa, já que a criança frequenta outros ambientes. Ensinar o que pode ou não fazer é essencial. Você pode não ter piscina, mas seu vizinho tem, ou algum amiguinho da escola, ou algum parente…
Aula de natação é excelente, mas vai de acordo com a idade:
– Não colocar na aula de natação antes de 3 meses de idade
– De 3 a 6 meses a criança usufrui muito pouco
– E de 6 meses a um ano é muito bom colocar na natação porque a criança tem o chamado “reflexo golfinho”, que fecha a glote automaticamente para não engolir água
– De preferência, que a criança nem entre na cozinha se o fogão ou forno estiverem ligados. Mas sabemos que nem sempre isso é possÃvel e, muitas vezes, a mãe está cozinhando e a criança brincando por perto. Então, deixe o cabo das panelas sempre virados para a parede e não para fora do fogão, ou a criança pode puxá-los.
– Não deixe produtos de limpeza embaixo da pia
– Não deixe cadeira perto da pia ou a criança pode subir
– Atenção ao acesso para eletrodomésticos como ventilador, liquidificador, batedeira, processador
– Objetos pontiagudos como facas, tesouras devem ficar trancados
– Cuidado com a porta do forno, ela é leve e a criança pode abrir com força e o que estiver lá dentro cai em cima dela, usar trava especÃfica para fornos
– Cuidado com bule ou xÃcara de café quente, se a criança puxar a toalha, pode cair o lÃquido quente sobre ela
– Cuidado com vazamento de gás, faça manutenção periódica
– Evite cobertas, muitas almofadas, protetores de berço e travesseiros que podem sufocar a criança pequena
– Jamais deixe a criança dormir na sua cama, junto com vocês, qualquer que seja a idade, pois as chances de sufocamento e de morte súbita são elevadas (leia a matéria “Dormir com bebê pode provocar morte súbita“)
– Guarde cosméticos, grampinhos, remédios em locais altos e trancados
– Grades de berço evem seguir a certificação do INMETRO (leia na matéria “10 dicas para deixar o quarto do seu bebê mais seguro“)
– Instale grades nas janelas, portões de proteção perto de escadas etc.
– Cuidado com fechaduras que fecham só por dentro, como banheiros, pois a porta pode bater com o vento e criança ficar presa
– Ao colocar bacia de água no quarto com a intenção de aumentar a umidade, coloque-a em lugar alto, não acessÃvel para a criança
– Repelentes elétricos devem ser colocados perto da porta para formar uma barreira e o mosquito não entrar no quarto, se for colocado perto da cama ou do berço pode causar alergia
– Caso seja feito tratamento nos móveis contra cupim, mantenha a criança fora do ambiente pelo tempo recomendado pelo prestador de serviço, pois a alta concentração dos produtos utilizados pode provocar problemas neurológicos em pessoas muito sensÃveis
– O berço deve ser utilizado somente até quando a criança começa a engatinhar. Depois disso, ela é capaz de pular e cair. Melhor um colchonete no chão ou uma caminha com grade parcial e almofadas no chão
– Use protetores de porta para a criança não prender os dedos
– Não deixe a criança subir no vaso sanitário, que pode quebrar e a criança se cortar
– Vaso sanitário deve ser mantido com a tampa fechada com trava para evitar afogamento. Como a cabeça de um bebê ou uma criança pequena é mais pesada que o corpo, se entrar com a cabeça no vaso, não consegue sair sozinho
– Não deixe o bebê tomando banho sozinho na banheira, pois ele pode se afogar com apenas 2,5cm de água ou cair da banheira
– Não deixe a criança tomando banho sozinha em pé, mesmo que seja no tapete antiderrapante, pois ela pode escorregar e cair
– Sempre verifique a temperatura da água da banheira antes de colocar o bebê
– Mantenha cosméticos, remédios, aparelho de barbear, pinças e demais objetos trancados a pelo menos 1,5m de altura (leia a matéria “17 dicas de casa segura para crianças“)
– Nunca se refira a um medicamento como doce
– Coloque tapete antiderrapante no box
– Não use andador, pois tem alto Ãndice de acidentes (leia a matéria “Andador, usar ou não?“)
– Skate, bicicleta, patins, patinete necessitam de equipamentos de proteção, como capacete, joelheira e cotoveleira (leia a matéria “Acidentes que podem acontecer com a criança na fase escolar“)
– Detergente da bolinha de sabão não é tão tóxico, mas não deixe a criança brincando sozinha ou ela pode ingerir
– Muito cuidado com as pilhas e baterias dos brinquedos, se a criança ingerir, leve imediatamente ao pronto socorro
– Cuidado com piscinas. 90% dos afogamentos são de água doce, ocorrem em piscinas e banheiras (leia a matéria “Piscina, mar, rios… todo cuidado é pouco“)
– Cuidado com plantas tóxicas no jardim (leia a matéria “Criança em casa, atenção à s plantas tóxicas“)
– Evite colocar agrotóxicos nas plantas caseiras/ornamentais
– Mangueiras podem provocar afogamento ou enforcamento
– Atenção à churrasqueira, álcool e espetos de churrasco
– Guarde objetos de jardim, como pá e rastelo
– Passe repelente na criança que vai brincar no jardim para afastar insetos
– Ensine a lidar com cães e gatos, não mexer enquanto estão comendo, a respeitar os animais
– A cor, o sabor e o cheiro atraem a criança para produtos de limpeza. Eles devem ficar trancados, em local alto
– Mantenha escadas guardadas
– Cuidado com pisos escorregadios
– Coloque proteção nas janelas, em caso de apartamentos
– O tanque deve estar chumbado na parede
– Não deixe rodos ao alcance, a criança pode pisar e o cabo bater em sua cabeça, seu olho
– Independentemente do tipo ou marca de sabão que se queira utilizar para lavar a roupa do bebê, o importante é enxaguar muito bem e evitar o uso de amaciante, que pode provocar alergias
“Na dúvida, vá pelo pior, melhor pecar pelo excesso e levar ao pronto socorro do que não fazer nada”, Dr. Anthony Wong
Intoxicações
O Brasil registrou 2243 crianças hospitalizadas por intoxicação entre janeiro e agosto de 2013.
As serpentes e lagartos venenosos estão no topo da lista no número geral de intoxicações e envenenamentos, sendo atrelados a 857 hospitalizações. Em seguida, estão os escorpiões, com 272 internações. No quesito substâncias nocivas, os medicamentos foram os maiores vilões, responsáveis por 178 casos.
Em relação ao número de mortes, os dados mais atualizados do Datasus são de 2011, quando 71 crianças de até 14 anos morreram em decorrência das intoxicações. Os itens mais mortais: escorpiões, com 24 casos, pesticidas (10) e serpentes e largartos (9).
A população entre 10 e 14 anos foi a mais afetada, com 805 hospitalizações entre janeiro e agosto de 2013. Já em mortes, as crianças de 1 a 4 anos representaram 56% ou 40 fatalidades no ano de 2011.
Os meninos representaram 60% dos casos de hospitalização por envenenamento no Brasil, ou 1362 registros, nos oito primeiros meses do ano. Em relação às fatalidades em 2011, quase não existe diferença: foram 36 mortes de meninas e 35 de meninos.
Obs. Em caso de intoxicações, seja qual for o produto ingerido, não provoque vômito e não dê leite. Levar o produto junto ao hospital, imediatamente.
A notificação pelos postos de saúde de hospitalizações por envenenamento é obrigatória por lei, o que ajuda no controle e prevenção dos riscos.
Como Prevenir
A ONG Criança Segura começa em outubro uma campanha com diversas dicas sobre como evitar os riscos que podem levar crianças e adolescentes à intoxicação. Saiba mais no site Criança Segura.
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Telefones de emergência
Mantenha telefones de emergência (SAMU: 192 e Corpo de Bombeiros: 193) próximos aos aparelhos de telefone de sua casa.
Para casos de intoxicação, existe o número do Disque-Intoxicação: 0800-722-6001. A ligação é gratuita e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), presente em 19 estados.
CEATOX Campinas (Centro de Assistência Toxicológica)
Endereço: Cidade Universitária Zeferino Vaz – Hospital das ClÃnicas
Barão Geraldo, Campinas / SP – CEP: 13083-888
Telefone: (19) 3521-6700 / 3521-7555 Atendimento 24h
Fax:(19) 3521-7573
E-mail: cci@fcm.unicamp.br Â
Ao ligar, tente fornecer as seguintes informações: idade e peso do paciente, como foi o contato com o produto, há quanto tempo foi a exposição, os sintomas, informações sobre o produto (tenha a embalagem em mãos) e um número de telefone para contato.
ONG Criança Segura
A Criança Segura é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público dedicada à prevenção de acidentes com crianças e adolescentes de até 14 anos. A organização atua no Brasil desde 2001 e faz parte da rede internacional Safe Kids Worldwide, fundada em 1987, nos Estados Unidos, pelo cirurgião pediatra Martin Eichelberger.
A entidade também oferece cursos gratuitos de educação a distância. Quando os cursos são lançados, a equipe divulga no site, fique atento.
Bate papo com Dr. Anthony Wong e Dra. Simone Abib, no evento “Casa Segura Ariel”
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