Meu filho é portador de alergias múltiplas
Ellen Dias Rodrigues
Mãe do Samuel
♥ “Não é fácil ter um filho com alergias múltiplas. Alérgicos são crianças também, e como toda criança, tem vontades”
23.05.2016 – Depois de sofrer um aborto espontâneo em 2010, decorrente de placenta prévia, em 2012 chegou o momento de tentar engravidar novamente, coloquei meu sonho nas mãos de Deus, pois me sentia pronta psicologicamente e fisicamente.
Em fevereiro de 2012 veio o tão sonhado positivo. Evitei muita coisa por ser a primeira gestação. Deixei a profissão de fisioterapeuta de lado, pois imaginava que o esforço da profissão tinha levado ao aborto, mas estava totalmente errada. Mesmo sem fazer nenhum tipo de esforço, tive, mais uma vez, uma gestação com placenta prévia. Usei medicação, fiz repouso e muita oração. O sangramento parou e placenta migrou aos 6 meses de gestação.
Meu filho é portador de alergias múltiplas
No dia 12 de novembro de 2012, foi o dia mais feliz da minha vida e do meu esposo. Aos 9 meses de gestação, Sam nasceu de parto normal pesando 2.857kg e 48 cm de altura, o menor menino daquela manhã na maternidade de Campinas, mas muito saudável. Tivemos alta no tempo normal de permanência na maternidade.
Em casa, como a maioria das mães, tive sim muita dificuldade com a amamentação, mas não desisti pois sabia da importância do aleitamento materno.
Sam era um bebê muito bonzinho durante o dia, mas ele não dormia durante a noite. Tinham noites que ele acordava mais de 25 vezes e nós não dormíamos. Era minha queixa principal ao pediatra, mas ele dizia quer era normal. Como mãe de primeira viagem, acreditava nos médicos, mas meus instintos não. Sam também não ganhava peso algum, o máximo que ganhava era 25 gramas por semana, e eu tinha muito leite, mas o pediatra insistia que era melhor eu dar fórmula especial para ele ganhar peso. Eu simplesmente troquei de pediatra porque eu e meu esposo sabíamos que não era falta de leite, era outra coisa, mas não tínhamos ideia do que seria.
Fui em todos os pediatras do convênio que tínhamos na época e todos diziam que o melhor para o Sam era a fórmula infantil e que meu filho era pequeno e magro por genética dos pais.
“Chegamos a mencionar sobre minha intolerância à lactose e da alergia de amendoim do meu esposo, e eles simplesmente ignoravam o nosso relato”
Ouvimos de outro médico que nós estávamos procurando doença no nosso filho, que eu era neurótica e que eu ficava com ele muito tempo no colo. Chegamos a mencionar sobre minha intolerância à lactose e da alergia de amendoim do meu esposo, e eles simplesmente ignoravam o nosso relato.
Ouvi muitas coisas absurdas que me deixaram muito triste e me sentindo uma péssima mãe, eu só queria dar o melhor ao nosso filho e naquele momento eu não conseguia ajudá-lo.
Quando começou a introdução alimentar foi uma maravilha, Sam comia tudo, mas suas fezes tinham um aspecto diferente, relatei isso ao pediatra mas disse que era normal acontecer com introdução de novos alimentos. Eu sempre sonhava com esse momento, fazia todas suas refeições fresquinhas, nada congelado. Tudo sem açúcar, sem fritura e nada de derivados do leite de vaca, era uma alimentação rica de muitos nutrientes e também continuava com a amamentação .
Com 6 e com 8 meses de vida Sam teve pneumonia, ficou hospitalizado. Foram os momentos mais difíceis desde que me tornei mãe, doía demais ver o Sam sofrendo, me sentia impotente por não saber que causava essas pneumonias. Hoje, acredito fielmente que essas foram consequências da alergia alimentar.
Aos 11 meses tive que desmamar o Sam, pois eu iria retornar ao tratamento de artrite reumatoide e a medicação era absorvida pelo leite materno. Foi um momento muito doloroso, eu chorava e sofria muito todas as vezes que dava a fórmula infantil, mas não havia outra saída naquele momento, pois eu mal conseguia pegar o Sam no colo e precisava de ajuda do meu esposo e dos meu pais para me auxiliar nos cuidados com Sam.
Com a fórmula Sam ganhava peso e crescia melhor que antes, mas começou a ficar com barriguinha inchada, muco nas fezes (mas não sabia que era muco), vivia com região dos olhos inchadas, muita coriza nasal, às vezes diarreia e com um mal humor terrível. Cheguei a comentar com a pediatra mas ela disse que era pico de crescimento, dentes nascendo e o clima instável.
“Alguns minutos depois, Sam começou a tossir e começou a surgir urticárias por todo corpo e logo levamos ao pronto socorro, onde teve diagnóstico de alergia ao corante”
Em fevereiro de 2014, na última consulta com a pediatra, ela disse que Sam podia comer gelatina. Com a insistência do meu esposo (que ama gelatina) resolvi dar. Alguns minutos depois, Sam começou a tossir e começou a surgir urticárias por todo corpo e logo levamos ao pronto socorro, onde teve diagnóstico de alergia ao corante. Foi medicado e liberado, mas tivemos que manter a medicação em casa. Dois dias depois ele havia piorado, começou a ter bolhas de água por todo corpo, muito coceira e dificuldade para respirar.
Era feriado de carnaval e a pediatra não atendia, então tivemos que retornar ao pronto socorro, onde teve um novo diagnóstico, agora impetigo (uma bactéria) e alergia ao corante. Foi medicado, liberado e continuar o tratamento em casa.
“Passou o carnaval, e o Sam não teve grandes melhoras, eu comecei a ficar desesperada”
Passou o carnaval, e o Sam não teve grandes melhoras, eu comecei a ficar desesperada, liguei para várias clínicas que tinha alergologista, até conseguir um que pediu vários exames de alergia ambiental, lógico que deram normais, exceto o igE total (exame de sangue para diagnóstico de alergia), que estava extremamente alto, e então o médico pediu exames específicos para alimentos.
Hoje, Sam tem 3 anos e 5 meses é alérgico a proteína do leite de vaca, soja, milho, ovo, glúten, aveia, amendoim, látex, banana, abacate, kiwi, limão, peixes de água salgada. Ele não tem reação só de ingerindo os alérgenos, mas também reação de contato. Ele é portador de alergias múltiplas!
“Chegou a se sentir excluído, por exemplo, quando não pode comer pastel com seus primos. “
Sam é um menino esperto, arteiro, falante e feliz, mas já chegou a se sentir excluído, por exemplo, quando não pode comer pastel com seus primos. Aquele dia chorei na frente dele, não consegui conter minhas lágrimas. Eu só o ouvia dizer “mamãe eu não gosto disso, eu não gosto de sentir isso”. Lógico que quando chegamos em casa eu fiz um pastel, que não ficou tão saboroso como esperava, mas o importante é que ele gostou e me agradeceu muito. Aquele sorriso e os olhos brilhando mandava a tristeza para bem longe.
“Alérgicos são crianças também”
Hoje, eu digo que nos alimentamos melhor do que antes das alergias, os “substitutos” tem valor nutricional melhor, mas não é fácil ter um filho com alergias múltiplas. Alérgicos são crianças também e, como toda criança, tem vontades e seus momentos de curiosidades. Cada dia que passa o Sam pergunta sobre tal alimento, quando vai poder comer, por que faz mal…
Bem meu coração fica em pedaços com todas as suas perguntas, mas faço o possível e o impossível para ele se sentir incluído na sociedade. Foi com o sentimento de inclusão que surgiu o meu blog “Sam e Mamãe na Cozinha“, com objetivo de ajudar familiares que passam pela mesma situação.
“Eu quero prestar a ajuda que não tive quando recebi o diagnóstico do Sam”
Este ano surgiu o primeiro grupo de apoio aos alérgicos e familiares de Campinas e região, onde convido profissionais da área de saúde para falar sobre alergia alimentar, e é um momento que dividimos nossas angústias, medos, dúvidas, abraços e saber que não estamos sozinhos.
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